Intrigante verdade

Percorreu as redes da internet, como de hábito, imagem com o Presidente da República sendo batizado no rio Jordão. O batismo, sabe-se, é usado pelas mais diversas fés, como uma espécie de ritual de passagem. Nesse caso, a recepção de um novo fiel. O testemunho de compromisso em manter fidelidade religiosa, obrigando ao que a professa a obediência aos dogmas, preceitos e práticas da igreja ou seita a que passa a ser vinculado. Nem por acaso, muitos pastores das ditas denominações evangélicas e neopentecostais passaram a ocupar espaços crescentes nos últimos três anos, nas estruturas do poder. Um sinal de que, mesmo sem aiatolás, há um projeto de implantar no Brasil um tipo de governo teocrático, que não só a covid-19 evidenciou, como pelo que os fatos protagonizados pelo ex-Ministro da Educação o revelam. Tudo isso, em nome de uma pretensa verdade, sobejamente desmascarada - e não só aqui - pela produção em série, e veloz e volumosa divulgação do que, por obediência ao que mandam os patrões abrigados sob outra bandeira nacional, se conhece por fake-news. Pois a mesma pessoa (?) que se anuncia como dono de uma nova e estranha verdade, agora participa da maior manifestação de fé católica, de que a capital paraense é palco, há mais de 200 anos. Vendo-se ameaçado de não superar a votação prevista de seu concorrente no segundo turno eleitoral, o Presidente tenta fazer do espetáculo religioso-profano todo ano acompanhado por milhões de pessoas, uma caça ao voto. Lá, onde no século XIX os cabanos instalaram um governo popular, ele usa de seus poderes de mistificação para mentir, mentir e mentir. Nada diferente do que é costume arraigado em sua conduta deletéria, julgando-se capaz de enganar mortais e deuses, desde que isso satisfaça sua desmedida ambição pelo poder e o desvario genocida que anima seu comportamento e põe a serviço de seus interesses todo e qualquer gesto de que possa resultar benefício para ele mesmo, sua família e os que o cercam. Os mesmos, que, usando o nome do homem mais importante da História Humana, aproveitam-se da miséria e das limitações humanas para extorquir, enganar, mentir e construir para si mesmos a riqueza material negada aos demais. Ainda bem que a Arquidiocese de Belém, em nota oficial, negou tenha sido formulado algum convite ao anti-Cristo (o significado substantivo da nota assinada por Dom AlbertoTaveira), levado a sério somente pelos que ignoram a história do nazareno e, no limite, não titubeiam em caluniar o filho de Maria e José. Criam suas próprias verdades, mistificadores capazes de criar mitos. Mais que isso, lendas. Mais, ainda - mentiras, não mais que mentiras. Os deuses a que servem sendo meros acompanhantes daquele que, dizem os livros sagrados, foi excluído do Paraíso.