Mesmo os riscos decorrentes da fumaça pairando sobre Manaus não arrefeceram o ânimo dos que dão de ombros para os interesses da maioria. Dos mais pobres, em especial. Quando se tornam mais evidentes os riscos que a reconstrução da BR-319 envolve, mais se agitam os defensores desse projeto avesso à crise climática. Não porque a combata, mas por ignorá-la e fazer vista grossa às ameaças potenciais da construção de uma rodovia no trecho e nas condições a que está exposta a obra. Quem já tenha trafegado pela estrada (se esta é palavra adequada) BR-319 terá tido a oportunidade de conhecer a precariedade de suas bases e o risco permanente imposto aos veículos e seus ocupantes. Ademais, é sabida da pressão por ocupação humana que tem sido pretexto para ampliar as áreas desmatadas, com todas as consequências que isso implica. Dos incêndios, naturais ou provocados, pouco importa, vem expressiva contribuição para o desequilíbrio do clima. Ademais, a agressão aos tradicionais e legítimos ocupantes do território por onde ela passaria e as alterações na fauna, flora e solo não são desprezíveis. Pelo menos, aos que conseguem avaliar os riscos da desertificação da Amazônia e o dever de respeitar o direito dos povos tradicionais com algum grau de sanidade. De humanidade talvez seja mais correto dizer. Essas, porém, são preocupações que não frequentam a (má) cabeça de boa parte dos interessados na aventura. Insistir nesse projeto, quando várias alternativas já foram apresentadas, é zombar da inteligência humana e concorrer para o agravamento da crise do clima, em escala planetária. Algo tão criminoso quanto incendiar a floresta.
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