Marcelo Seráfico*
Séculos e vidas de luta vêm sendo necessários para impor limites e impedir a dizimação de povos e de histórias. Lutas que poderiam ser dedicadas à construção de outra sociedade ou simplesmente à reprodução de uma mesma, são dedicadas à resistência à infâmia capitalista.
As sociedades cujo grau de adoecimento psíquico não alcançou o dos EUA e de Israel, devem isso, também, à luta contra a infâmia. Mas muitas delas ou da maioria de seus cidadãos só enxerga a barbárie quando voltada para si. Se ela for dirigida ao outro em nome da infamante civilização do capital, é tida, aceita e legitimada como flecha endereçada ao progresso.
Muitos temem o horror, mas o patrocinam. Não vêem que, sendo uma relação, o horror não poupa ninguém. Franz Fanon, Aime Cesaire e tantos outros, no "glorioso" pós-guerra, analisavam e denunciavam a barbárie colonial. Eles seguiam a tradição iluminista-emancipatória de ver a árvore e a floresta, a lição hegeliana da dialética do senhor e do escravo. E como Marx, punham a "moral" e a "ciência" que justificavam a barbárie de cabeça pra baixo... ou pelo avesso, como julgo ser mais preciso.
Nosso "o que fazer" parece mais e menos complexo. Mais, pelo fato de que desde o primeiro respiro, vimos sendo socializados, educados, formados na e para a violência; menos, pelo fato de que essa condição pode ser um fundamento empírico decisivo para a conscientização sobre a brutalidade generalizada das relações de dominação e exploração.
Não é pouca coisa...
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*O autor é cientista social formado pela UFAM, com mestrado na UNCAMP e doutorado em Sociologia na UFRS. É professor da UFAM e comentarista da Band News/Difusora do Amazonas.
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