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Ideias e calças curtas

Enquanto os números referentes à violência na mais populosa cidade brasileira e capital do estado mais rico da Federação assustam, promete o governo estadual instalar mais unidades deseducativas chamadas colégios cívico-militares. Não se sabe qual o fato que assusta mais - o número de assassinatos registrados ou a intenção de levar a 302 o número dessas (des)escolas, 100 das quais com o início de atividades ainda este ano. Passa ao largo das preocupações do governador Tarcísio de Freitas o envolvimento de agentes da Polícia Militar de São Paulo em boa parte das mortes contabilizadas. Já nem menciono a enorme contradição expressa no adjetivo composto que dá nome às escolas. Tanto quanto se pode aprender ao longo do processo educativo formal (eis que só nesse aspecto ele é datado), civil e militar são categorias diferenciadas, e não apenas porque a primeira não costuma, de ordinário, usar uniforme e ostentar armas. O esforço para fazer de cada civil um indivíduo armado não pode prosperar a ponto de eliminar a distinção substancial entre as duas categorias. Fatores ligados às funções específicas dos militares não podem ser esquecidas, a menos que a intenção final seja a completa militarização de toda a população. Que as escolas militares deem conta da formação, aperfeiçoamento, treinamento e adestração de seus integrantes, nada há a criticar. Que tais atividades sejam levadas às instituições de educação, no entanto, constitui propósito maléfico à sociedade. Não apenas porque educação e instrução têm muito a torna-las uma distante da outra. O civil tem muito mais a ver com civilização, no que concerne à possibilidade de escolher, dentre tantas funções e especialidades profissionais, aquela que mais se adequa às suas aspirações e, afinal, inspirações. Onde um (o quartel) exige hierarquia e obediência, a outra (a escola) há de exigir permanente busca da variedade, do debate, da liberdade de ensinar e de aprender. Reduzir a atividade das escolas à simples transmissão subordinada do conhecimento significa reduzir, igualmente, as perspectivas e os sonhos da própria sociedade. Quanto mais liberdade houver nas escolas, mais próximas de interpretar a sociedade e capacitar seus egressos a contribuir para o equacionamento e solução dos problemas comuns elas estarão. Ainda mais, quando a realidade mostra dados irrefutáveis de quanto está longe a organização militar dos Estados de cumprir os objetivos para os quais foi criada. Melhorar os processos de seleção, instrução, treinamento e aperfeiçoamento dos policiais militares de São Paulo (como de todo o Brasil) seria melhor que fazer de cada escolar um agente policial de calças curtas.

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