No blog da comunicadora Ana Cláudia Jatahy (jaraquinarede.com.br) encontro oportuno e bem-escrito texto, de autoria do procurador do Estado Ronald Peres. No esclarecedor trabalho, o autor trata da Revolução de 1924 em Manaus, que terminou por derrubar a oligarquia dos Rego Monteiro. A leitura do agradável texto tornou-se para mim ainda mais interessante, por mencionar uma das figuras mais emblemáticas da política regional no século XX. Refiro-me ao então tenente Magalhães Barata, um dos jovens militares que participaram do movimento liderado por Ribeiro Junior. Da participação de Barata eu tinha conhecimento; do papel destacado dele na derrubada de Rego Monteiro eu quase nada sabia. Alguns hão de perguntar porque a presença do tenente Joaquim de Magalhães Cardoso Barata mereceu minha atenção. É fácil justificar. Basta dizer da influência daquele militar na vida política do Pará. E acrescentar acontecimentos de que participei ativamente, em razão da liderança que ele exerceu durante cerca de 30 anos no estado onde nasci. Um dos interventores designados por Getulio Vargas, Barata depois tornou-se governador do Pará, quando venceu a eleição de 1946. Derrotado por outro colega de farda, o general Alexandre Zacarias de Assumpção em 1950, o ex-interventor e ex-governador ganhou o mandato de senador no pleito seguinte. Já nesse cargo, ocorreu sua aproximação com meu pai, o funcionário de carreira dos Serviços de Navegação e Administração do Porto do Pará-SNAAPP, João Baptista Seráfico de Assis Carvalho. Porta-voz e interlocutor dos interesses dos marítimos junto ao senador Magalhães Barata, meu pai fez-se admirado pelo fundador e Presidente estadual do Partido Social Democrático. Primeiro, pela facilidade de argumentação, demonstrada quando levava os pleitos da categoria profissional a que pertencia. Mais tarde, pela posição assumida, diante de ataques e vitupérios lançados contra Barata por um de seus muitos adversários políticos. Na roda de amigos estavam, dentre outros, meu pai, um ex-chefe de polícia designado pelo ex-governador Barata, um deputado de partido opositor do líder pessedista e o então chefe da Casa Civil de Zacarias de Assumpção. Deste partiram as agressões verbais a que Seráphico respondeu com elegante e contida veemência. O quanto bastou para o ex-auxiliar de Barata provocar um encontro do meu pai com o líder paraense do partido pelo qual Juscelino Kubitscheck de Oliveira se elegeu Presidente da República. Poucos meses depois, João Seráphico era eleito vereador do PSD à Câmara Municipal de Belém e designado pelos colegas para a vice-liderança da bancada naquela casa legislativa. Marcou-se naquele momento o início do que seria longa carreira política, não fosse a mesquinhez de adversários incomodados com a ascensão de um homem pobre e reto, no cenário político paraense. Mesmo traído quando disputou a Presidência do chamado legislativo-mirim, João Seráphico não poderia imaginar quanto a solércia e o ódio costumam trabalhar juntas. Tal constatação ocorreu, quando ele, já exonerado das funções de Superintendente de Navegação dos SNAAPP, foi injustamente caluniado por adversários, porta-vozes dos interesses de alguns militares da Marinha. Primeiro civil a dirigir a navegação na Amazônia, a ele fora dada a preferência, quando Barata respondeu à solicitação de JK. Passados 6 anos ( 1966-1961), desde que assumiu o cargo, meu pai foi acusado de ter favorecido os candidatos do PSD, valendo-se dos navios da autarquia de que era um dos dirigentes. Um processo judicial foi instaurado, dando oportunidade a que o ex -superintendente provasse sua absoluta isenção. Por isso, nunca o processo chegou a julgamento. A punição impossível de aplicar foi substituída pela espada de Dâmocles que o impediu de concorrer em outros pleitos. Estava sub judice, não poderia candidatar-se. Barata já era morto. O texto de Ronald Peres fez-me resgatar esse registro memorial, feito em homenagem ao estudioso da História do Amazonas que enriquece o quadro da Procuradoria de Justiça de seu Estado.
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