Disseram-me: cala-te
não me calei.
Insistiram: guarda tua pena
outras pagarás!
Fiz-me surdo.
Ameaçaram-me:
na tua boca poremos
o gosto do fel
em tua vida
também!
Perseverei...
Olhos sempre postos
no amanhã
ouvidos atentos ao
menor ruído
quanto mais perdido
o som
mais sensível
às dores do mundo
As penas da vida
têm na ponta de meus dedos
o transporte que leva
da cabeça
ao cérebro endoidecido
de um débil mental mecânico
os sonhos ainda possíveis
as frustrações irrecuperáveis
a memória do que ficou
em vida...
Quanto mais desejam
ver-me calado
aumenta o tom
da minha voz
se pedem que meus
dedos apertem algum
gatilho
ou contas sagradas
sobre o teclado de um computador
eu os ponho.
Esse diálogo
o mudo em suas
peças invisíveis
tudo aceita
se entregue por mãos
que dizem o
indizível
já nem se dando conta
da impossibilidade da
conversa habitual...
Manaus, 04.01.2021
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