Homúnculos

Exigir de todos os mortais a coragem característica de Leonel de Moura Brizola seria impensável. Ainda mais quando são mandados às favas não apenas os escrúpulos, mas todos os sentimentos que distinguem o ser humano dos outros animais da natureza. Se o mais conhecido dos que confessaram a ostensiva falta de escrúpulos já não pertence à sociedade dos vivos, outros a ele sobreviveram e continuam a sobrepor seus nem sempre honestos interesses àqueles da sociedade que os tolera. No fatídico 13 de dezembro de 1968, Jarbas Passarinho, um dentre tantos outros homens menores reunidos no Palácio do Planalto, terá sido o mais corajoso (!): disse-o sem que ninguém o obrigasse, de seu desprezo pelos escrúpulos - e tudo o mais que confere dignidade à vida humana. Assim, subscreveu o Ato Prostitucional (como dizia meu advogado, Alarico Barata) número 5. O Brasil entrava em um dos mais terríveis períodos de sua história republicana. A tentativa de encobrir os crimes praticados contra a sociedade não esmoreceu, às vezes envolvendo nessa triste missão cidadãos que só têm razões para fazê-los cada dia mais memoráveis. A memória prestando-se a papel preventivo, inscrevendo lições que impedem a repetição dos crimes. Outros dos da estirpe do condestável do golpe de 1964 na Amazônia não se fizeram esperar. Todo-poderosos de ontem, capazes de dirigir a autoridade de que eventualmente são portadores para objetivos inglórios e deletérios, não têm feito senão repetir a mesma conduta do ex-governador do Pará e ex-Ministro de mais de um dos governos autoritários. O mais representativo dessa (má) espécie, destituído da posição que o fez reles serviçal do ex-capitão excluído das forças armadas, está agora com o mandato de senador posto na bacia das almas. E, pressuroso e falsamente humilde, busca convencer aqueles que lhe poderão cassar o mandato, de suas ignoradas virtudes. Como enganou alguns, quando sob suas mãos houve a oportunidade de constituir-se coordenador, investigador, e julgador da Operação Lava Jato, pensou-se autorizado a enganar a Justiça Eleitoral. E, de Seca a Meca, passeia sua figura patética, talvez em gesto único em sua triste vida. Leva-se à presença dos julgadores em mais alto grau do Poder Judiciário, na tentativa de fugir à cassação, que se não vier do TRE-PR certamente será decretada pelo STJ. Os homúnculos também têm seu lugar na História. Não, propriamente, entrados pela porta principal, mas dejetados pela cloaca.