Quando aumenta na sociedade a saudade da guerra fria, o ambiente se torna duplamente aquecido. Pela ação do fogo ou, mesmo das águas, em grande parte do Planeta; pela ação dos homens, nos lugares em que o aquecimento se torna lucrativo. Ucrânia e Amazônia, por exemplo, participam do anúncio de dias piores. Mas não é apenas nesses lugares que a política da morte dá sua cara. Cedo me convenci ser a guerra a prova mais transparente da apenas suposta inteligência superior do ser que se mobiliza apenas sobre e com as tradicionais patas traseiras. A nem todo eles, porém, a poupança do esforço físico da dupla de membros superiores foi compensada pela atribuição do que há de mais injustamente distribuído pela Natureza, a inteligência. É sobretudo daí que vem a preferência pela guerra quente, tão mais lucrativa quanto mais mortes provoque. Lá onde falte argumento; lá onde a razão não alcança; lá onde a Ética está alheia - se instala a força física, de que as armas são o mais evidente símbolo. As guerras quentes não são mais do que isso. É certo que, em alguns casos, as armas que promovem, facilitam, disseminam e aplaudem a matança têm desenho diferente dos que conhecemos. Neste caso, canetas e redes sociais as substituem a contento. Não da sociedade, mas dos que, entregando-se à sua consagração, cultivo e uso, fazem da violência o biombo atrás do qual escondem sua impotência (qualquer o significado que se dê à palavra), sua covardia e seus maléficos propósitos. No Brasil particularmente, temos o que muitos poderiam ver como o laboratório dessa trágica experiência. A tal ponto, que o comércio, o porte e o uso das armas passou a receber a chancela oficial, sob os mais variados e torpes pretextos. Mesmo se reduzindo ou eliminando praticamente qualquer participação nas atividades de controle e monitoramento das armas. O incentivo à produção e a facilitação do estabelecimento de negócios lícitos, pacíficos e produtivos cede lugar à expansão de atividades diretamente responsáveis pelo atual clima de sobressalto em que vive a população. E não mais apenas nas grandes metrópoles do País. Se a pandemia colocou o Brasil no topo do grau de mortalidade atingido (com 3% da população do Planeta, sofremos 11% das mortes registradas), ninguém se espante, quando tivermos alcançado idêntica posição (talvez a 3ª) no ranque dos que matam seus concidadãos. Armas de fogo não faltarão. Nem pretextos. Muda a temperatura da guerra, sem que mudem seus resultados.
Guerras - frias e quentes
Atualizado: 30 de set. de 2022
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