Guerra e genocídio
- Professor Seráfico
- 3 de jun.
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Parece-me não vir sendo tratado em seus aspectos mais dramáticos e do interesse de toda a população mundial os acontecimentos que o governo de Israel promove em sequência assustadora, na faixa de Gaza. Aos problemas humanos e às razões humanitárias não tem sido dada a mesma atenção que se volta para a condenação deste ou daquele dos lados em confronto. Lados, aqui tomada a expressão como o conjunto de forças que sustentam – com apoio político, fornecimento de armas, palavras de defesa e adesão ao genocídio, argumentação falaciosa etc. – e mantêm a matança dos palestinos. A rigor, mesmo pessoas aparentemente bem-intencionadas vêm justificando o genocídio, lembrando que o ataque do Hamas foi o primeiro dos atos agressivos ocorridos. Sequer buscam saber como se constituiu o Estado de Israel e quais os compromissos assumidos pelos que se beneficiaram, inclusive, da ação de Oswaldo Aranha, o diplomata brasileiro ao qual se tem atribuído, sem qualquer reserva até agora, papel fundamental na criação do estado israelense. Também seria oportuno lembrar que outro dos conflitos em curso, em território ucraniano, tem merecido o mesmo tipo de abordagem. Quando a União Soviética implodiu, junto com o muro de Berlim ruiu também o Pacto de Varsóvia. A dissolução da Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN (NATO, em inglês) seria a contrapartida, que os Estados Unidos da América do Norte jamais permitiram ocorrer. Por isso, a matança recíproca que produz milhares de vítimas naquele pedaço um dia pertencente à Grande Rússia na verdade coloca em confronto a nação infelizmente dirigida por Donald Trump e a do ex-agente da KGB, Wladimir Putin. Nada além disso, porque são os interesses em jogo, não a nacionalidade dos combatentes que importa identificar. Ambos os casos – o extermínio do povo palestino e a guerra na Ucrânia -, têm posto na mesa de debate aspectos menos relevantes, ao gosto dos apetites desumanos e vorazes na busca de sua satisfação. Matam-se, na guerra entre a Rússia e os Estados Unidos da América do Norte, a que a Ucrânia empresta o cenário, combatentes ucranianos e russos, mas também mercenários incapazes de satisfazer sua carência de humanidade em ambiente pacífico. É certo que lá também têm morrido crianças, velhos e outras pessoas indefesas, como ocorre na faixa de Gaza. Não, porém, com a mesma ferocidade e volúpia fatal que caracteriza o primeiro holocausto deste século. Enquanto no território ucraniano o conflito envolve exércitos organizados e forças poderosas (de dentro e de fora da Ucrânia), o governo israelense impõe o poder de uma das mais fortes e organizadas forças militares contra um grupo terrorista. E, sucessivamente, Netanyahu anuncia ter matado um ou mais dos líderes do Hamas. Por que, então, o propósito de matar até o último dos integrantes daquela força, quando isso tem custado a vida de crescente número de civis, dentre eles crianças, idosos e indefesos de toda espécie? Admitir a guerra como algo defensável e justo é um crime em si mesmo. Usar pretextos e sacrificar tantos seres humanos, até que o último dos crescentemente fragilizados inimigos seja morto, mais que um crime de guerra é ameaça que afeta toda a humanidade. Mesmo que se admita não ser a guerra, em si mesma, um dos mais hediondos crimes. Haveremos de admitir, igualmente, que as semelhanças quanto às infundadas razões apresentadas não anulam uma grande diferença que se faz entre os dois conflitos: um pode ser considerado uma guerra; o outro não passa de puro e simples extermínio.
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