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Graciliano e Luís Inácio

Foto do escritor: Professor SeráficoProfessor Seráfico

Nascidos ambos no Nordeste, Graciliano Ramos (conhecido nos meios intelectuais como Graça) e Luís Inácio Lula da Silva, que o amor do povo chamou Lula, têm algo a ver um com o outro, mais que a data de nascimento - 27 de outubro. O escritor alagoano consagrado pelas obras Vidas Secas e Memórias do Cárcere revela em seus escritos enorme sensibilidade social e indiscutível talento ao levar seus sentimentos, impressões e interpretação da realidade humana para as páginas impressas. Já nem se contem as belas peças literárias à guisa de relatórios por ele produzidos, na cidade em que prestou serviços como funcionário público. Foi prefeito de Palmares, em Pernambuco. Lula, em sua trajetória construída dentro de fábricas, também olhou para a comunidade de trabalho de que fez parte, com o olhar aguçado e atento que levou Graça a situar-se e descrever sua província. De lá partiu a resistência à iniquidade reinante em sua época, que a sucessão dos anos e décadas não eliminou. Muito por causa da persistência dos males com que a região Nordeste convive há séculos, Luís Inácio emigrou. Pegou um pau-de-arara (que Graça parece não ter conhecido, por menor a quantidade de brilhantes ustras, ou menor a perversidade dos torturadores de então), e tratou de sobreviver em São Paulo. A que se tornou conhecida como a locomotiva do Brasil. Não era outra coisa, realmente. Nem sempre tendo esclarecido esse conceito e identificadas as forças que faziam aquela unidade federativa tornar-se a principal cidade da América Latina. A máquina que empurrava a locomotiva nutria-se não apenas do carvão vegetal, porque a este se misturava - como ainda mistura, em grande medida - o suor (às vezes, o sangue) de muitos emigrados dos Estados mais pobres, a maioria deles situada no litoral nordestino. Os mesmos que, humilhados por certa parte da população bem-posta na vida, foram vingados em 30 de outubro de 2022. Ambos foram afastados do convívio dos familiares, dos colegas de trabalho e da vida mundana, como preço pago pela clarividência e pelo compromisso social de que não abriram mão. Graciliano foi preso pela ditadura em avançado processo de instalação (1936), passando 9 meses preso. Depois, libertado por falta de provas, transferiu-se para o Rio de Janeiro, ainda capital da República ameaçada. Lula foi preso por quase dois anos, em processo parcialmente conduzido, razão pela qual também ganhou a liberdade. Em tempo de cárcere mais extenso que o imposto ao maior ficcionista moderno do Brasil, na prisão o ex-metalúrgico traz à luz proposta de governo capaz de, ao menos, reduzir os males que ele e o outro imigrante nordestino sofreram na pele e viram e veem tantos outros nordestinos sofrer. Estão dentre os que contam a experiência do cárcere, Antônio Gramsci e Mandela. Não sabemos o nome dos que os encarceraram.

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