Orlando SAMPAIO SILVA
O genocídio dos Yanomámi começou em 1500, quando uma nau portuguesa aportou na costa da Bahia. Primeiro, os colonizadores escravizaram os indígenas em suas diferentes etnias, que viviam na costa atlântica. Havia, nesta parte deste Continente (que veio a chamar-se Brasil) cerca de 6 milhões de indígenas vivendo em suas aldeias espalhadas por todo o território, a maioria nas terras cortadas pelo rio mais caudaloso do Mundo. Os bandeirantes caçaram índios para a escravidão. Vieram os escravos africanos, enquanto os indígenas procuravam refugiar-se no interior.
Com a república, passou a prevalecer a ideia da integração dos indígenas à sociedade nacional. Eles, que aqui já viviam desde milênios, deixariam de ser etnias autônomas com suas próprias culturas e organizações econômicas e sociais, e passariam a ser trabalhadores explorados em meio à sociedade nacional, como os demais trabalhadores brasileiros. O SPI depois FUNAI presidiria esse processo integrativo, que começou com a proibição dos indígenas falarem as suas próprias línguas. Em 1975, estive fazendo pesquisa antropológica em uma aldeia Yanomami. Os índios desta aldeia eram protegidos por uma Missão Católica. O país estava em plena ditadura militar. Nesta época, os garimpeiros já estavam chegando às bordas da Terra Yanomami e empreendendo as primeiras penetrações no território pelos rios. Tudo começou então. Os militares no Poder eram integracionistas e desenvolvimentistas. “Integrar para não entregar” era um dos lemas do sistema autoritário. Com a integração, os grupos indígenas deixariam de existir. Nesta fase histórica, a população indígena já tinha menos de 1.000.000 de integrantes. O genocídio dos indígenas, ao longo da história do Brasil, estava em franco andamento. Com o fim da ditadura militar, a FUNAI teve ora administrações comprometidas com a proteção das populações indígenas, ora as que concretizavam o projeto integracionista, mesmo a Constituição prescrevendo seus direitos (dos índios) às terras em que viviam e, a se organizarem e viverem de conformidade com suas tradições socioculturais.
O último período de governo de direita deve ser computado desde quando o vice Temer assumiu a Presidência. Portanto, são dois anos deste governo somados aos quatro de Bolsonaro. Governos de direita integracionistas e contrários aos direitos indígenas. O genocídio específico do povo Yanomámi se processou neste período, quando o número de garimpeiros, nas Terras Yanomami, aumentou 46 por cento ao ano. Com o garimpo ilegal, os rios e igarapés, dos quais dependia a vida desta população de 30.000 seres humanos, foram em grande parte destruídos com as escavações e com o despejo de mercúrio nas águas. Bolsonaro visitou um dos garimpos ilegais e lá incentivou os garimpeiros a continuarem a garimpagem. Os Yanomámi ficaram sem os peixes ou tinham peixes contaminados pelo mercúrio, sem água para beber e para fazer comida, sem água para tomar banho e sem os igarapés para o lazer das crianças. As águas ou desapareceram ou estavam envenenadas. A floresta estava em processo de eliminação. A caça e coleta de alimentos entraram em decréscimo. Os indígenas estavam perdendo as terras para plantar seus roçados. Garimpeiros transmitem doenças a esse povo da floresta e, aproveitam-se sexualmente das mulheres, e as contaminam com doenças venéreas. Grande parte da população Yanomámi passou a viver em uma situação de fome. Subnutrição. Muitos adoeceram. Muitas mortes neste cenário dantesco. O governo não lhes propiciou assistência médica. O genocídio Yanomámi estava em andamento acelerado.
Enfim, agora, nesta nova conjuntura política, a sociedade brasileira, pessoas do governo, civis e militares, estão irmanados no processo de salvamento de um povo inteiro.
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