Futuro e passado

Do passado, só não sabem os ignorantes, por preferência ou deficiência das funções mentais. No primeiro caso, os avestruzes que se metem no buraco, para ter visão e audição comprometidas. No segundo, os que, autoritários e desumanos, por vocação ou simples burrice, produzem provas contra eles próprios. Por isso, não chegaram ao alcance de sentidos de que até os asnos são providos, a fartura e a contundência dos documentos e elementos probatórios que sustentam a denúncia levada pela Procuradoria Geral da República ao Supremo Tribunal Federal. Todos eles relativos a fatos consumados, o que significa dizer, parte do passado que se precisa conhecer. A despeito de sua magnitude, extensão e profundidade, ainda podem ser subsidiados de outros fatos igualmente delituosos. E não são poucos, nem desimportantes tais ocorrências, na trajetória do denunciado que a PGR considera o líder da organização criminosa, como a manda chamar a legislação brasileira. Quanto ao futuro, já seria um prêmio à maioria dos denunciados, obter penas menores que as até agora previstas. A expectativa de condenação, assim, é generalizada, sobretudo porque nem todos os apoiadores são avestruzes ou desonestos. A defesa dos terroristas, qualquer que seja a posição por eles ocupada no processo agressivo à democracia, sabe o que pode esperar como resultado. Qualquer que seja sua competência profissional, nada nem ninguém pode garantir-lhe a capacidade de alterar o conteúdo dos dispositivos constitucionais e legais em vigor. Num certo sentido, a pretensão de aprovar a anistia já denuncia, em si mesma, a certeza de que a condenação virá. Neste caso, porém, a ignorância somada à má índole produz mais uma peça da bestiologia nacional. Instituto aplicado aos condenados, sem a sentença condenatória a anistia não pode ser aplicada. Sequer dissolve, por si só, a inelegibilidade. A percepção do passado como ainda vigente e necessário mistura-se com futuro que os brasileiros veem como alvissareiro. Golpistas e ladrões, mesmo os de jóias, terão tempo de sobra para refletir sobre isso. Em ambiente tranquilo, seguros de que não serão torturados.