Fumaça, fogo e fake-news

Quem tenha lido algum texto teórico sobre o processo de comunicação, há de ter guardado, se não como certeza, pelo menos como hipótese, a sabedoria em ir além do contido nas linhas ou na mensagem aparente. Isso diz da conveniência de ir fundo na investigação, antes de chegar à mais simples constatação. Nas entrelinhas, no que está apenas implícito pode encontrar-se robusta prova de evidência. Atribui-se como causa do boato a lacuna, tantas vezes registrada (ou conscientemente produzida) a respeito de seja lá o que for. A fake-news não é senão o produto mais corrente dessa elaboração malsã. Aos que pautam suas atividades públicas em desproveito dos demais cidadãos, mesmo se confrontando a ordem jurídica e o Estado Democrático de Direito, nada é mais desejável que o sigilo, o despistanento, o apagamento ou a produção de mentiras e sua intensa disseminação. Gobells talvez ainda não tenha sido superado, desde a célebre frase a ele atribuída: uma mentira dita mil vezes assume foros de verdade. Dos bastidores, tem-se dito nos últimos dias, vêm fortes indícios do preparativo de interrupção no processo eleitoral. Isso implicaria a prorrogação dos mandatos, em todos os cargos eletivos em véspera de encerrar-se. Tal prorrogação duraria tanto quanto fosse necessário à recuperação dos números perdidos pelo candidato à reeleição em sucessivas consultas ao eleitorado. A rigor, uma suspeita nada incrível, a julgar-se pelas práticas dos atuais governantes. A fumaça começa a poluir o ambiente político e toldar a visão de todos. Levá-la em consideração, portanto, é mais que tarefa de bombeiros. Devem empenhar-se, na verdade, todos os que desejam eleições limpas, como o assegura há mais de duas décadas a urna eletrônica.