Detecto em diversas fontes, partidas de diferentes segmentos sociais e representantes de ideários diversos, manifestações preocupadas com a perda de prestígio das forças armadas brasileiras. Muitos dos analistas comparam fatos distantes e recentes, e analisam a trajetória das organizações militares, nenhum deles escondendo ter a república advindo de um golpe militar. Também é unânime a impressão de que sem traição política ou pessoal, a derrubada de qualquer governo, democrático ou ditatorial, seria impossível. Isso pode até levar à suspeita de que há enorme força histórica na traição. Não à moda de Calabar ou Joaquim Silvério dos Reis, porque hoje os aliciantes são mais variados, talvez até mais sedutores. A experiência da caserna certamente terá faltado a muitos dos analistas, tanto quanto aos que fazem da política seu ganha-pão. Em geral, mais que seu dever de prestar serviço à coletividade. Se, como eu, tivessem ingressado nas armas antes de completados 18 anos de idade, possivelmente teriam aprendido algumas coisas que seriam forçados a desaprender. Também como eu. O que me revela uma pessoa envelhecida, a que o tempo socorre apenas permitindo aguda e desagradável percepção das mudanças operadas na sociedade. Já não lhes restariam na memória, além dos bons dias divididos com colegas e camaradas em armas, lições que julgávamos capazes de superar ambições, vícios de toda ordem. Lições que parecem afastar-se dia-após-dia do ambiente de que os aspirantes a oficial de décadas passadas lograram desfrutar. A oportunidade de conviver com oficiais que sabiam desempenhar suas funções e ofícios com a mesma dignidade com que um médico guarda na memória e usa em seu mister o juramento de Hipócrates. Sem que isso os tornasse iguais, acima de serem apenas diversas suas percepções. Não era um deus, antigo ou contemporâneo, que cobrava de nós fidelidade, mas a Constituição Federal. A mesma diante da qual, ar geralmente sisudo a contrastar com o espírito irresponsável, coloca a mão todo Presidente da República. Falo, eu sei, de coisas do passado. E o sei - igualmente contristado - com que dor. Não só a de ver conspurcados os valores de que pensei ter sido testemunha presencial, mas sobretudo a de ver comprometido o futuro das gerações vindouras. Essas, mais que todos, tendo mil razões para condenar-nos pelas vãs promessas e a aparente impossibilidade de sermos fieis ao juramento. O problema, constato também, é que as aparências coincidem com alto grau de conformidade aos valores impostos ao mundo.
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