Fraqueza, covardia e vitimização

Dos piores sentimentos que o ser humano pode dedicar ao outro é a pena. Ela faz mal ao emitente, tanto quanto ao destinatário. O primeiro, porque não tem dentro de si uma gota de amor que seja. Por isso, concede o dó como punição à inferioridade que ele atribui ao outro. Este, porque se desfigura naquilo que se pensa atributo inerente ao ser humano, a dignidade. Em geral, essa autopercepção é acompanhada da vitimização de que decorre. Aí entra um real fator que até justifica a percepção do que tem pena - a covardia. Esta decorre em especial da fragilidade, às vezes física; outras, moral. Por isso, à incapacidade de enfrentar os problemas corresponde o impulso por mostrar superioridade de que se julga - e só ele mesmo - detentor. Na verdade, a própria inferioridade por ele percebida em si desata uma forma de compensação. A pena do outro e a demonstração de falsa generosidade impede-o de sentir-se ainda mais fraco e covarde do que já é. A lteratura é rica de exemplos, tanto quanto a vida política coloca diante de nós esse tipo de conduta. Incapazes da menor manifestação de dignidade, os fracos e covardes compensam suas reconhecidas desvirtudes com gestos, palavras e atos que, apesar de tudo, nada conseguem além de pôr em evidência suas piores e desprezíveis peculiaridades. Estas, longe da fazê-los melhores, leva-os a uma espécie de generosidade, falsa porque destituída de amor. Porque o amor ao próximo não é afeito à covardia e à fraqueza. Portanto, deles não pode resultar.