Fracasso e lição

Há quase nada a discutir a respeito da amarga experiência de Lula, no último Dia do Trabalhador. Acostumado a reunir em torno de si centenas de milhares de ouvintes, milhões até, ao triPresidente jamais terá ocorrido a cena de que foi o mais importante protagonista, em Itaquera. Maior terá sido a frustração do orador principal, diante de um público que todos afirmam não ter chegado aos dois milhares de participantes. Embora alguns analistas (pretensos ou especializados) vejam na presença e nas palavras ditas por Lula estratégia inteligente e produtiva, não há como esquecer que sua tentativa de impulsionar a candidatura de Boulos à Prefeitura de São Paulo foi longe demais. Parece clara a infringência da Lei Eleitoral, não sendo exagero prever as más consequências que dela poderão decorrer. À habilidade e a sabedoria políticas de Lula vem sendo atribuído o pedido de votos no deputado federal filiado ao PSol. O propósito de tornar mais conhecido e destacar o apoio pessoal de Lula viria sendo alcançado. Para esse objetivo estaria concorrendo a repercussão nas redes adversárias do pronunciamento do Presidente. De certa forma, o reconhecimento da eficiência da comunicação praticada pelos antilulistas, comparadas às que defendem Lula. Pode ser. Não há, no entanto, qualquer dado concreto de que a aposta de Lula dará certo. Não é a mesma a lógica da política, como a própria manutenção da fidelidade a um político enredado em inúmeros processos criminosos e tornado inelegível o atesta. Lula, porém, tem nova oportunidade de aprender, ainda que este caso específico possa lhe causar alguma perda. Só assim evitará o uso de uma expressão atribuída a Tancredo Neves: quando a esperteza é muito grande, acaba comendo o dono.