
Foco equivocado - ou não?
Aproximando-me de oito décadas de vida, pensava quase impossível surpreender-me com alguma coisa. A conduta de uma pessoa, uma decisão oficial, um monstro em nada parecido com os conhecidos e os que sabemos existirem nas melhores páginas da literatura universal - nada disso seria capaz de fazer-me surpreso. Qual nada! Mais eu viva, mais terei que aprender, como se todo dia fosse capaz de renascer. Nessas horas é que entendo em toda sua profundidade e inteireza a sentença de Sócrates: só sei que nada sei.
Não faz ainda meia hora ouvi em noticiário oficial o registro de deficit de mais de 300 mil vagas nas penitenciárias nacionais. Essa é a quantidade estimada, no país que ocupa a 3ª posição (triste posição!) no ranque da população carcerária. Antes da surpresa maior, o aperitivo se acompanha de certo ar triunfal: considerado o tamanho da população brasileira, ficamos pouco mais atrás na classificação. Como se 300 mil fosse número desprezível e o problema fosse menos que vergonhoso. Mais grave, porém, a informação que seguiu esse infame preâmbulo: um terço dos atuais encarcerados não foram julgados. O tom quase triunfal com que o assunto foi tratado, anunciava medidas que as autoridades dizem estar tomando, para garantir mais vagas nas prisões. Quem sabe a preocupação dos servidores postados na cúpula e adjacências do governo deveria dirigir-se à educação? Talvez isso assegurasse melhores resultados.