Interessante e oportuno comentário da jornalista Vera Magalhães coloca-nos diante do que pode ser chamado PTcídio. Uma espécie de sacrifício imposto ao Partido dos Trabalhadores por lideranças (se isso é possível, diante da falta de alternativa a Lula) que têm dado apoio à trajetória do metalúrgico pernambucano. Ao inegável talento político próprio de Luís Inácio Lula da Silva (hoje o único político brasileiro com porte de estadista), o esforço emprestado e os riscos por isso corridos por muitos dos filiados ao PT asseguraram a chegada dele à Presidência da República. Para tanto, quatro eleições e tudo o que elas implicam foi enfrentado, ao ponto de a vitória de 2001 ser tida como o triunfo da esperança sobre o medo. Poucos acreditam que sem a Carta ao povo Brasileiro teria sido possível à esperança subir a rampa do Planalto. Com ela, porém, não subiram os mais respeitáveis e desejáveis propósitos e objetivos anunciados pelo Partido dos Trabalhadores. Apagar certas conquistas pontuais, que em nada alteraram as estruturas políticas, econômicas e sociais do País seria, no mínimo, obra de desonestos. Sobretudo porque, a esse adjetivo poderia ser acrescentado o da mais desonrosa ingratidão. Milhões de famílias foram tiradas da pobreza, número menor de outros milhões de cidadãos e empresas jamais acumularam tanto. Em síntese: a acomodação foi geral, com os resultados sempre esperados quando os pactos são feitos por cima. É fácil retornar ao status quo ante, quando as estruturas sociais ficam intocadas. Não aconteceu diferente, daí decorrendo o interesse em ver Lula reposto no Planalto, ainda mais quando o status quo ante oferecido como alternativa remonta a quase seis décadas de nossa História. É pouco dizer-se que o Mundo, e não só o Brasil, insere-se na área em que o nazifascismo põe sua cara, revólveres e garras à mostra. Esta é só parte do panorama atual, sem que se vislumbre qualquer sinal de que a desigualdade não só vai aprofundar-se e espalhar-se, mundo afora. A presença de Geraldo Alckmin, como integrado à chapa encabeçada por Lula, portanto, num certo sentido corresponde à segunda edição da Carta ao Povo Brasileiro. Sem atualização, no entanto. Talvez até, com agravantes influentes no resultado – das eleições ou do governo que por elas será consagrado.
Vejam-se, por exemplo, certos sinais de que outubro de 2022 será substancialmente diferente de outubro de 2001. Setores importantes do partido de Lula mostram insatisfação com a postura e a conduta de Gleisi Hofmann, nada menos que a Presidente do PT. Dentre esses insatisfeitos, dizem as folhas, incluem-se alguns que se orientam pelas formulações de José Dirceu. Trabalhando nos bastidores, o ex-tudo de Lula ainda não foi superado, em termos de observação política e frieza na análise. Também há os que se impressionam com a indubitável habilidade de Jaques Wagner, a quem caberia melhor o papel de coordenador da campanha. Em qualquer hipótese, porém, tudo só correrá bem para Luís Inácio Lula da Silva, se ele não se deixar levar pelas ciladas. Não faltará, até outubro, quem as produza. Resta ao ex-Presidente da República saber como enfrentá-las, se é seu desejo o de manter-se candidato. Nesse sentido, não se tem como, honestamente, considerá-lo lento demais no anúncio oficial de que é postulante ao cargo. Até porque, como se sabe, há os que sabem e destes nem todos querem dizer, a caserna tem mandado seus recados. Mais uma vez pode-se esperar que a Esperança vença o Medo?
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