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Esperança de amor feita


                                                                               José Seráfico

A organização dialética do Universo coloca-nos frequentemente diante de situações, no mínimo, desafiadoras. A morte, tida por indesejável, acaba acendendo luzes dentro de nós, enquanto o que é por ela levado ascende ao mais alto píncaro da dignidade humana. A morte de José Pepe Mujica, ex-Presidente da república do Uruguay, renova as esperanças de um Mundo melhor, a despeito de encerrada a permanência terrena de um homem dos que mais lutaram por isso. Chega a gerar nossa pena, dó de nós mesmos, incapazes enquanto Pepe era vivo, de perceber sua grandeza, feita de tranquila humildade. Sua sabedoria, forjada no amor ao próximo. Sua paz consigo mesmo, de que só desfrutam os que se despedem dos que ficam com a certeza de que fizeram quanto foi possível fazer. Sem ódio, sem ressentimento, sem ambição, sem outra coisa que o devotamento a uma causa em que acreditava. Devotamento erguido sobre bases profundas, como alimentadas pelo mesmo adubo com que Mujica cultivou flores. Regado com o sentimento solidário que marcou sua passagem pelo vale de lágrimas, no caso dele vertidas sobretudo pelo empenho em tornar melhor o Mundo, a Terra, o Uruguay, o sítio onde floresciam junto com as flores, os propósitos que o tornaram um dos pensadores e governantes – em suma, e síntese: um dos homens mais sábios deste terceiro milênio. Não é vão o exemplo de José Pepe Mujica, como não o será tudo o que o mundo disser a respeito dele. Por isso, repetem-se e repercutem as manifestações de todos os setores, em especial dos que, acostumados (ao mesmo tempo decepcionados, desanimados e agredidos) com o empobrecimento humano destes intranquilos dias, só agora têm olhos de ver. Ver partir um exemplo de carne e osso feito, em que se aninham os sentimentos mais dignos da superioridade atribuída ao ser dito humano. Pepe se vai, mas fica conosco a certeza de que a vida dele, suas palavras, sua ação, seu exemplo, são o que de mais digno e edificante nos há de inspirar, vida afora, até que chegue nosso dia de partir. Vai, Pepe! Deixa conosco teu exemplo!*

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*Muitos textos foram – muitos ainda serão – publicados sobre José Pepe Mujica. A leitura de, pelo menos dois deles, ajudará a encontrar a razão do texto acima: Fusca azul flor de maracujá, de João Guatá, no Pasquim Cuiabano; e de Edward Magro, no Diário do Centro do Mundo, Adeus, meu amado Pepe Mujica.

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