Mínimos, ainda, há membros da elite brasileira que pedem mais pesada taxação sobre as grandes fortunas. Desta vez, é a socióloga Neca Setúbal que, entrevistada pela jornalista Myriam Leitão, expressa o que a grande maioria dos ricaços brasileiros considera anátema. Nesse segmento cultor do rentismo, amigo da desigualdade e patrimonialista, é preferível praticar a filantropia, sempre que algum descuido leva ao remorso. Políticas públicas que contemplem de fato e de direito a redução da desigualdade levam à autonomia individual e à dignidade humana. Essa, no entanto, é receita intolerada pela maioria dos ricos e nababos brasileiros. Tão certos da herança dos tempos coloniais, são eles produtores e beneficiários das práticas escravagistas ainda presentes no sistema por eles mesmos operados. Da mesma forma, e em razão da mesma índole, respondem pelo agravamento da crise climática, poluindo cursos d'água, contaminando o ar e levando o veneno à mesa dos brasileiros. Sequer aos lideranças dos setores beneficiados com favores fiscais de toda ordem interessa a formação e manutenção de classe média majoritária. Tal fenômeno é visto com hostilidade, por interromper o iníquo processo de acumulação e fortalecer os segmentos sociais dominados desde as capitanias hereditárias. Não é casual, nem rara a prática filantrópica transformar-se em vigorosa expressão de pira e vil pilantropia. Ainda falta muito para chegarmos à generalizada conclusão de que a desigualdade pouco incomoda os detentores do poder. O espírito de dominação está inscrito em seu DNA.
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