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Escrúpulos que caem

Parece-me, no mínimo, inoportuna a decisão de favorecer a exploração do petróleo na foz do rio Amazonas. O fato de se tratar apenas de autorizar pesquisas, não exclui, nem reduz o erro estratégico de faze-lo às vésperas da COP30. Num certo sentido, a decisão deixa mal o governo brasileiro e enfraquece a posição até agora reconhecida do Brasil, no trato da questão ambiental. Pior, constrange, por antecipação, as discussões, tratativas e compromissos a serem assumidos pelos participantes da COP30. Dentre os objetivos da reunião estarão alguns que dizem respeito não somente ao Brasil, como a necessária redução na emissão de gases poluentes. Como cobrar dos países que não alcançaram a meta estabelecida em COPs anteriores? Também é grave a contradição entre a autorização do IBAMA e a reiterada reclamação de que as matrizes energéticas passem por rápida fase de transição. Das fontes poluentes para a energia limpa, como repetem especialistas no assunto, muitas vezes aplaudidos pelos governantes de seus respectivos países. Nem seria necessário lembrar que boa parte do território brasileiro é abastecida por energia vinda dos ventos, do sol e das águas. Não são muitos os países que contam com o potencial energético de que o Brasil dispõe, razão suficiente para estancar a voracidade dos segmentos aos quais a perspectiva de lucro sobrepõe-se à saúde das populações e do próprio Planeta. Registra-se, novamente com a euforia característica dos que sempre ganham, quanto se têm expandido as usinas de energia solar e eólica, país a dentro. Sem os riscos que as fontes poluentes trazem à saúde dos seres vivos, além das ameaças sobre o equilíbrio dos biomas, em escala planetária. Os pretextos usados na tentativa de justificar a desastrada e inaceitável decisão baseiam-se todos, com exclusividade, nos supostos resultados de caráter econômico e financeiro, para não dizer abertamente monetários. Além de tudo isso, finge-se ignorar que Mariana, Brumadinho e outras trágicas e menos divulgadas experiências nada têm a ver com a exploração agora anunciada (iniciada?). Faz 57 anos, num certo 13 de dezembro, um ministro mandou às favas os escrúpulos, para permitir que brasileiros fossem torturados e mortos. Os infaustos dias que vivemos nem precisam mais de AI-5, para causar efeitos tão desumanos. Brumadinho e Mariana o dizem melhor. O novo 13 de dezembro chegou antes.


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