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Eros e Tânatos


 

O Conselho Federal de Medicina elaborou um questionário canhestro, apresentado como instrumento de suposta pesquisa. Aos que entendem ao menos um pouco de metodologia de pesquisa, seria forçoso reconhecer tratar-se de uma pesquisa não apenas suposta, mas – admitindo-a com esse nome - suspeita. Nas perguntas divulgadas, o que se pode observar à mais simples e elementar análise, é um conjunto de perguntas (digamos assim) sugestivas. O que elas sugerem? As respostas óbvias a serem dadas, de certa forma contidas em cada um dos itens de suposta (e suspeita) indagação. O propósito não poderia ser mais ofensivo à Ciência, à população e, pior ainda, à legislação. O documento ofende a Ciência quando reitera posição destituída de qualquer fundamento oriundo dos estudos e (estas, sim!) pesquisas feitas em relação às vacinas. Até antes da pandemia, a população se sentia protegida pelo bem-sucedido programa de imunização, com abrangência nacional. O discurso negacionista vigente desde janeiro de 2019, entretanto, influenciou de tal modo a sociedade, que até mesmo profissionais da Medicina aliaram-se aos que desprezam a Ciência e a colocam sob seus algozes. Uma tentativa de destruí-la. Aqueles de alguma forma comprometidos com as necropolíticas postas em prática durante quatro anos no Brasil. Pior, negando valor às ações preventivas que todos, em grande número dotados de flagrante hipocrisia, ao invés de inspirados por Hipócrates, fingiam saber eficazes. Mais grave, ainda, quando se sabe quanto o grau de adesão da população brasileira levara o Brasil a índices de cobertura distantes de serem alcançados por boa parte da comunidade internacional. Não será preciso destacar quanto isso repercute sobre a saúde e a vida dos brasileiros. Por isso, somos todos ofendidos pela conduta do órgão que tem, dentre muitas de suas atribuições como autarquia federal, a regulamentação e fiscalização do exercício profissional da Medicina em território nacional. Quanto à legislação, o mínimo que se pode dizer do CRF é tratar-se de comportamento marginal. Porque posto à margem de dispositivos legais pertinentes à matéria de interesse público. Matéria assinada pelo jornalista Reinaldo Azevedo, um ex-guru da direita, e publicada no sítio do UOL (17-01-2024) trata do assunto. Dar atenção ao que contém o texto do colunista do Universo On-Line resultará no reconhecimento de que a marginalidade no País está longe de ser ao menos arranhada. Sobretudo porque o furto de um pacote de biscoito em um supermercado logo determina a identificação (às vezes seguidas do endereço do infrator) de um marginal. Marginais que ostentam anéis de formatura, alguns com extravagante pedra esmeraldina, passam ao largo desta classificação, por todos os títulos desonesta e comprometida exatamente com o contrário dos objetivos dos profissionais inscritos no CRF – a pulsão de Tânatos vencendo a pulsão de Eros.

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