Percebo quanto há pessoas que pensam alterar a realidade, mudando o nome das coisas. De preferência, dizendo-as com expressões ou palavras estranhas à sua língua de origem. Neste caso, talvez a comprovação parcial do que dizia Nélson Rodrigues a respeito do caráter e da maior doença do brasileiro – complexo de vira-latas. O parcial lido na linha anterior está em que o grande cronista pernambucano não chegou a dizer que somos todos inferiores, só os que sofrem desse mal psicológico. Nestes últimos tempos, agravados pela assunção generalizada da síndrome de Estocolmo, deu-se de qualificar instituições e iniciativas com a aposição de adjetivos ou substantivos reveladores mais das carências sentidas e identificadas, que da qualidade do objeto denominado. É bem o caso de intrometer-se a qualidade na designação de órgãos públicos. Algo absolutamente despropositado, se essa condição não devesse ser tão inerente às funções do Estado desempenhadas por eles. Exemplo agressivo desta distorção é a Secretaria de Educação e Qualidade do Ensino, como se denomina o órgão estadual, no Amazonas. Outra, a Casa Casina de Inovação, sendo porém o mais ostensivo despropósito acrescentar ao nome do Ministério da Ciência e Tecnologia a palavra Inovação. Mais que tautologia, uma redundância sem limites, denunciadora mais de um desejo que de uma realidade. Maior que o desejo, contudo, é a ignorância sobre o sentido e a função das palavras e dos objetos que elas designam, além do caráter manipulador que elas envolvem. Talvez até, o uso de um vocábulo para dizer ou fazer o contrário do que ele representa. Ou se faz educação com qualidade, ou é melhor não a ter. Ou se espera da Ciência e da Tecnologia dela resultante, que venham parcial ou totalmente inovadoras, ou nem se aloquem recursos para produzi-las. Do modo como as coisas estão indo, sobretudo nesses setores tão fundamentais para a vida de qualquer sociedade sadia, não há como interpretar de forma favorável a qualidade e a inovação pretextada.
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