Diz-se que, no Japão, uma das profissões mais (talvez a mais) reverenciadas é a do magistério. O imperador, afirma-se, só se curva diante desse profissional. Verdade ou mentira, o fato é que a educação naquele país oriental é levada a sério. A ela se tem atribuído papel compensador da exiguidade territorial e da carência de recursos naturais variados e abundantes, como as conhecemos no Brasil e em outros poucos países. Anísio Teixeira, Paulo Freire e Darcy Ribeiro fizeram da educação seu apostolado, sem que seus pósteros tenham levado a sério as ideias que, ora com maior, ora com menor êxito, respondem por alguns avanços no processo educacional de nossas sucessivas gerações. Se a organização do sistema de educação pública do Brasil muito deve a Anísio, com o pernambucano que via a educação como instrumento libertador ficou evidenciada a probabilidade de reduzir e até eliminar o analfabetismo. A contribuição do antropólogo mineiro não foi menor. Foi dele a ideia dos CIEPs, posta com maior vigor durante o governo de Leonel Brizola, no Estado do Rio de Janeiro. A UnB é outra das instituições em que a criatividade de Darcy Ribeiro se fez conhecida. Imaginar ainda viável a educação como se diz feita por Sócrates, comprometeria e lucidez de quem o fizesse. Os avanços tecnológicos devem ser aproveitados, corrigidas as distorções e excluídos interesses que têm a ver muito mais com a deseducação que com o processo educacional. Exatamente porque a tecnologia avança, ao combate às distorções que marcam o uso de seus produtos há de corresponder o empenho em usar tais avanços para tornar mais acelerado o aprendizado e mais profundos os conhecimentos daí advindos. Há, no entanto, a força da reação às inovações, das quais a que pretende uma escola hierarquizada, em que a disciplina, não a metodologia científica, seja imposta. É disso que trata a anti-escola cívico-militar, não fosse a contradição do termo, a transformação de educandários em caserna. Também não basta instalar os mais modernos equipamentos, eletrônicos sobretudo, em todas as escolas do sistema público de educação, se outras condições faltarem aos professores, técnicos e alunos. Mesmo a remuneração justa causará algum impacto positivo na fase de formação dos jovens, se todo esse esforço não se sustentar por valores consagrados nos direitos humanos, os mesmos que se imagina relacionados ao processo civilizatório. Matemática, línguas, ciências serão boas ou más, de acordo com os valores que animam professores e alunos colocados frente-à-frente nos estabelecimentos educacionais. Se há pessoas que aplaudem e estimulam a tortura e a violência, não seria na escola que elas deixariam de estar. O egoísmo, esse pecado que os incréus pensam o mais grave de todos, nenhum efeito terá sobre a sociedade, a não ser aumentar a desigualdade. Essa condição que todos aparentam condenar, sendo poucos os que efetivamente a combatem. Não exijamos a imitação do imperador japonês; bastaria respeitar os professores. Como os médicos, advogados, sacerdotes...- enfim, todas as demais pessoas a que, com frequente hipocrisia, chamamos irmãos.
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