Dita por um professor de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro soube de frase bem-humorada que me parece definitiva. Disse ele sobre certo colega vaidoso, enfatuado e verborrágico: a ignorância dele cabe numa enciclopédia. Vou aos pais dos burros disponíveis e aprendo que enciclopédico é o conjunto de conhecimentos de muitos ou todos os domínios da sabedoria humana. Concluo: o outro médico sabia tanto quanto uma toupeira pode saber, de todas as coisas, qualquer o ramo de conhecimento a que o homem pode aspirar. Ou seja, nada. Diante do que a trágica realidade do País me mostra, como a tantos que não fecham os olhos por vontade própria, nem cerram os ouvidos por opção, ocorre-me a relação que o enciclopédico tem com o eclético. Deste, diz-se tudo quanto vindo de fontes diversas, integra um objeto. Neste caso, importa pouco a adequação dos elementos ao propósito buscado. Talvez a imagem de Frankenstein seja o melhor exemplo do ecletismo. Se no mundo das artes fica mais fácil identificar o fenômeno, o mesmo não acontece em outras áreas da atividade humana. Ainda que indesejável, contudo, na administração da coisa pública o ecletismo predomina, sendo variadas as justificativas, alegações e pretextos usados como fundamento. Exemplificar talvez seja o caminho mais curto para esclarecer. As tentativas de solapar a democracia incipiente, em nome da liberdade de expressão iniciariam a longa lista. A suposta intenção de combater a criminalidade através de ações criminosas é outra. Eliminar a violência estimulando, disseminando e favorecendo o comércio, uso e porte de armas de fogo, outro. Por isso, a ignorância enciclopédica, se casada com o ecletismo, potencializa as decisões governamentais, de que resultam e sempre resultarão más consequências . Não para os tomadores de decisão, mas para os que pagam os salários dos que as tomam. Ou para os que pavimentam a chegada de ignorantes enciclopédicos e ecléticos ao poder.
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