A extinção do Estado, historicamente atribuída aos anarquistas, num certo sentido – e apenas nele – os aproxima dos liberais. Enquanto aqueles proclamam suas razões e acabam por estimular o debate em torno do assunto, os liberais (pelo menos os dos nossos dias), não assumem claramente seu ideal. Afeitos ao ganho, seja qual for o modo de alcança-lo, revelam maquiavelismo que talvez jamais tenha assaltado o pensador florentino do Renascimento. Se a Bakunin e seus seguidores interessava o estabelecimento de relações em que a igualdade e a solidariedade teriam lugar, os liberais por isso distanciam-se deles. A estes o Estado até é tolerável, desde que aprofunde as desigualdades, fazendo-as avançar e imporem-se às relações sociais. Nesta altura da História, caberia dizer avançar ainda mais, de tal forma muitas das razões pelas quais nasceu o estado foram deixadas pelo meio do caminho. Pouco se tem lembrado de Karl Marx, para quem o estado não passa de fiel executor das determinações dos dominadores sobre os dominados. O comitê executivo da burguesia, como disse o filósofo alemão. Quanto à pretendida extinção, os últimos duzentos anos encarregaram-se de esquecer Bakunin e Prhoudon, dadas as vantagens de seguir caminho mais lucrativo – se é que me entendem. Mesmo quando se tenta experimentar a convivência sob as regras próprias a um estado democrático de Direito, quanto isso pode levar à superação das relações iníquas e desiguais provoca a ação danosa dos que sabem o tamanho de suas perdas, caso democracia e ordem jurídica consigam erguer-se e manter-se. Daí a Idade Contemporânea não descrever mais que a trajetória da sociedade capitalista, com os resultados que todos conhecemos. Como conhecidas são as ações e os pretextos que as levam a cabo. Ainda agora, quando muitos dos avanços inscritos na Constituição dita cidadã por Ulysses Guimarães sequer foram experimentados, tratam os congressistas brasileiros de retalhar a Carta Magna e estabelecer novas regras administrativas, sempre com o apelido de reforma. Algo como se derrubássemos um palacete, para no lugar dele erguer um barraco de papelão. Matam-se centenas de milhares pela negação da Ciência, ao mesmo tempo em que se renova a tentativa de desmontar o aparelho administrativo do País, a começar pela desmoralização do serviço público e pela punição dos que vivem dele e nele prestam os serviços de que a população carece. Dupla frente de batalha: a sanitária e a social. Matança diferente apenas quanto à forma utilizada.
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e não é que os liberais são anarquistas?