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Disciplina e criação

Nos anos 1960, o professor norte-americano Fred Riggs preocupou-se em comparar sociedades tidas por tradicionais, com as que ele considerava desenvolvidas. Sua obra A Ecologia da Administração não perdeu a atualidade, se não é que hoje se mostra rejuvenescida. Dentre as variáveis estudadas por Riggs, avulta a especificidade funcional das organizações. Onde as instituições se mostram mais dedicadas aos seus fins específicos, mais essas sociedades podem ser consideradas em desenvolvimento. O contrário disso é a assunção pelas instituições de funções que não lhes dizem respeito, além das que justificam sua criação e funcionamento. Outras variáveis foram estudadas por Riggs, que chegou à conclusão de que existem certas sociedades a que se pode dar o nome de prismáticas. A denominação vem da percepção dos fenômenos através de um prisma. A luz que entra pode ser difusa ou concentrada. Quanto mais concentrada a visão que se tenha da sociedade, mais ela está próxima da tradição e distante da modernidade. Detenho-me nessa variável - a especificidade funcional, porque ele tem muito a ver com a pretendida militarização das escolas, proposta pelo governador paulista. Como se fossem poucas as atribuições e os deveres das forças armadas ( aí incluída, nos Estados, a Polícia Militar), pretende-se desvia-las do que deveria ser o foco de sua atenção. Neste caso, a segurança de nossas fronteiras e de nossas instituições, além do combate ao tráfico de qualquer espécie, não o sistema de educação. Se há valores comuns a civis e militares, onde quer que estejam como cidadãos, há outros que são característicos das organizações, segundo os objetivos e propósitos funcionais a que se dedicam. Muitas vezes ocorre de alguns desses valores serem necessários em organizações diferentes, sem que se perca de vista a dosagem e o grau de interferência desses valores no alcance dos objetivos a que se dedicam. Um só exemplo - dado como vigorosa justificativa da casernização escolar - põe em relevo a disciplina. Fazer tabula rasa da escola em relação ao quartel quanto ao regime disciplinar, é ignorar questões de fundo e substância. Inimaginável renunciar a forte conteúdo disciplinar no ambiente castrense, pelos danos que isso traria à instituição militar. Nas escolas, a disciplina deve conter-se nos procedimentos metodológicos, os quais orientam a busca e disseminação do conhecimento. Se a uniformidade - o traje por exemplo já o diz - é desejável nos quartéis, será nociva, quando a criatividade e a liberdade forem tolhidas no processo de aprendizagem. Que a uniformidade nas escolas não vá além do traje usado como identificação e pertencimento. Os robôs são bem-vindos, sem que se substitua o ser humano, tanto mais estimado quanto mais criativo.


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