Nossos modos de ver
o mundo
separam-nos mais que
dois mil quilômetros de
coloridas águas
tornaram meus olhos secos
ao ponto de não
reterem nem verterem
o profundo sentimento
de lamentável dolorida
indesejável mágoa
Permaneço um homem
de esquerda
a que não assiste
o preconceito seja
qual for
que não guarda no
peito quase exausto
o mínimo rancor
nenhuma ponta de orgulho
maior que seja a sedução
do fausto.
Vejo em Bolsonaro
apenas
o abjeto genocida
irmão-parceiro de
Hitler, Nero, Stalin
Milosevic, Mussolini,
Bórgia, Herodes
em seus pobres
seguidores
fanáticos à espera
de derrubar outras torres
gêmeas ou solitárias
num enorme circo
de horrores.
Incomoda-me o olhar
dessa gente
qual revólver de meganha
utilidade crescente
movido por sentimentos
tocado não pelo dedo
do que atira
mas pela ira tamanha
não havendo bala
perdida em macabra façanha
mais outra alma
ganha.
Poupem-me, por favor
do medo que me
acompanha
eu, diante dos fuzileiros
ansiosos, sorridentes,
sorrateiros
olhos vendados
fronte erguida
importa pouco minha
mágoa
a outros sequer
instiga
muita oração a
enxágua.
Desculpem-me se
lhes pareço
interessado na discórdia
não é disso que se
trata
compreendam ser o que
resta
em meu peito
dando-me todo o direito
de adiar o meu
dia
o tiro de
misericórdia.
Compreendam a dificuldade
de imaginar
o Natal
momento de rara
felicidade
noite muito feliz
também se presta
simulando ser festa
momento fatal
em guerra que nunca eu
quis e por ela
nada fiz...
Manaus, 20-12-2020
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