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Desespero compreensível


Jamais se espere que o desespero produza algum bom resultado. Talvez essa seja uma das razões pelas quais o código de ética médica desaconselha a assistência dos profissionais a ele sujeitos a pacientes com os quais mantenham parentesco próximo. Em certas circunstâncias, todavia, é compreensível o uso de medidas que, prejudiciais ao que as utiliza, complicam ainda mais a situação que o constrange. A situação que o envolve acaba atingindo nível de gravidade capaz de neutralizar qualquer esforço de solução. Quando o indivíduo detém poder legal e não conhece seus limites, pior para ele, se se deixa tomar pelo desespero. A tendência, então, é recorrer a qualquer medida que lhe pareça adequada à superação da dificuldade, não importa se seu poder é menor do que ele gostaria. Mais complicada fica a situação, se o protagonista tem longo passivo de ilicitudes a pesar sobre seus ombros. Junte-se a isso inteligência miniaturizada, deficiência de equilíbrio mental e baixíssimo grau de socialização (talvez os psicólogos e psiquiatras chamem sociopatia), para tornar ainda mais difícil a situação. Tais manifestações, tem-se visto, não anulam a percepção adequada do constrangimento que incomoda e justifica plenamente o desespero sentido. As últimas iniciativas do Presidente da República o dizem com trágica e patética perfeição. Seu propósito de desmantelar seja o que for, desde a usina que fornece água potável a uma metrópole, até instituições do Estado Democrático de Direito, é tentativa desesperada de evitar o que lhe parece pior. Ver-se, uma vez concluído seu mandato, dentro de uma cela, como resultado do conjunto de sua obra, fica fácil entender o desespero presidencial. Ainda mais quando o mesmo destino pode ser dado a seus filhos. Neste caso, as consequências do desespero prolongam-se no tempo, para a frente, tanto quanto projetam-se para trás, onde estão algumas das ilicitudes cometidas pelo pai e seus tão amados rebentos.

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