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Derrama

A Inconfidência Mineira resultou da resistência à extorsão de que a colônia ultramarina de Portugal quis se valer, com relação à cobrança dos quintos atrasados. Quintos, diga-se, dos infernos, já que essa era a imagem da Terra de Santa Cruz, para os dominadores da época. Mais de meio milênio depois, e quando a nação deveria comemorar duzentos anos de (suposta) independência, eis que temos comido o pão que o diabo amassou e a derrama se faz nos bolsos dos privilegiados de sempre, entre dominadores e dominados. Aqueles, sempre movidos pelo egoísmo e a usura que dele se nutre; os outros, tocados pela mais infame subserviência ou pela fome persistente. Às vezes, até, um dia afastada, mas logo recrudescida. Ainda agora, inventam-se propostas que de inéditas nada têm, agravando-a substancialmente, sob o pretexto de facilitar a vida dos miseráveis. Famintos, para dizer com as letras merecidas. À esmola que o candidato à reeleição oferece, e que nasce com morte certa, soma-se o presente grego - o empréstimo consignado, nada menos que manobra para indicar onde devem ser derramados os bilhões de reais "generosamente" oferecidos. Disso já têm falado inúmeros especialistas, alguns apresentando cálculos que deixam claro o papel a ser desempenhado pelos incautos: o que a mão direita dá, a outra recolhe. Os juros bancários tornarão os famintos, além de mantê-los na fome, reféns dos credores. Dentre estes, todos os bancos que se prestarem a mais esse vil e oprobrioso papel. Ainda assim, há os que derramam bênção aos demônios de plantão, presença permanente nas bocas e cérebros, decisões e ações deles mesmos. Para isso têm servido os altos postos da que até recentemente se pensava ser uma república. Receber tudo quanto os que desejam eliminar a pobreza matando os pobres de fome (se nova pandemia não se apresentar como merecedora da cumplicidade já demonstrada), sempre será providencial. Derramar votos contra os inimigos dos pobres jamais será prova de ingratidão. Trata-se de revelar lucidez, que permite ver na "generosidade" tão alardeada apenas a devolução do que foi tirado dos pobres. Orçamentos secretos, decretos de sigilo e associações para a prática de crimes facilitam a passagem da boiada. Na urnas, porém, pode dar-se o estouro. É isso que os eleitores hão de compreender. Antes que outros 700 mil encham de troféus as galerias dos derramadores.

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