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Democracia, negócio e negociação

Imaginar democracia onde campeiam a intolerância e o ódio equivale ao esforço de produzir um anel de ouro a partir de um pedaço de madeira. Há certas (chamemos assim, para mais fácil entendimento de todos)matérias-primas indispensáveis à construção do sistema nascido na Grécia Antiga. Tais ingredientes resultam do tipo e da qualidade das relações humanas, desenvolvidas ao longo dos tempos, em todas as sociedades. Marcados por traços só aparentemente indeléveis, parecemos desacreditar da inteligência humana e da possibilidade de operar, como agentes e pacientes, alterações que atualizem nossas práticas políticas e sociais. Autoritarismo, nepotismo, escasso sentimento de cidadania, patrimonialismo, egoísmo exacerbado, nem por sua presença prolongada se tornam inexpugnáveis. Se entendermos ser a Política o espaço onde o homem melhor pode exercer sua vontade, e se essa vontade se dirige à superação dos constrangimentos ofensivos à democracia, daí pode resultar a aproximação entre o que diz a Constituição e a conduta dos cidadãos: todos são iguais perante a Lei. A leitura irresponsável e a interpretação desonesta desse preceito, maximus maximi, escondem-se na alegada individualidade de cada ser considerado humano, mereça-o ou não. A horda e a lei da selva, com a cadeia alimentar de que se tem notícia, jamais seria ultrapassada, a darmos alguma atenção, adesão ou obediência a essa proposta, talvez a síntese do resumo do que tem sido entendido como conservadorismo. O mesmo que admite, ignora, aplaude, estimula, aprofunda e decreta a eternidade daqueles traços acima identificados. Algo como, desafiando a inteligência dos outros, poderia ser definido assim: nascidos diferentes, desiguais devemos manter-nos ad aeternum. Em grande medida, a democracia imaginada acaba por substituir a necessária negociação pela mais imunda negociata; o entendimento alimenta-se do troca-troca abjeto, todos bancados pelo suor dos mais pobres, por isso aparentemente mais fracos. Não pode ser esquecido, ainda, o conselho de Napoleão Bonaparte: dividir para governar. Para isso tem servido a produção copiosa e em série de novos partidos, todos eles desdenhosos de programas e projetos de alguma forma desejáveis na democracia. Pelo menos, na de que fala a maioria dos políticos, sinceros ou não. Assim, tudo acaba em negócio. O mercado em sua máxima expressão. Ou o Fundo Partidário e a dinheirama reivindicada não dizem nada?

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