Por que vocês gostam de ler? Perguntei às gêmeas de oito anos. Em uníssono, elas responderam: Porque ler um livro é como fazer uma viagem. Respostas como essa é que não deixam ir embora toda a Esperança que ponho na humanidade. Explico-me: nos que são e se sabem seres humanos. Os que se percebem membros de uma comunidade, tenha ela o tamanho que tiver, reunida na mesma Casa. A Gaia de que tanto se tem falado. Aquela que Armando Dias Mendes dizia ser o abrigo comum dos humanos. De outros animais também. Mesmo dos que ainda não lograram ultrapassar a condição de instintivos, para fazerem-se plenamente humanos, Os sub-humanos, quero dizer. Ele os há. Não diria de todas as idades, porque às crianças ainda resta uma determinante natural. Todo dia crescerão, sem que isso implique, necessariamente, em que se tornarão pessoas. No sentido que interessa à sociedade de que fazem parte – a Humanidade. A resposta das gêmeas marca definitivamente uma constatação que há anos elaboro. É com os de espírito puro, quase à margem dos seus semelhantes mais velhos, que temos a aprender. Dentre os que pensam ter-se alçado à condição humana, não são todos os que alcançaram tal patamar de entendimento do Mundo. Dos dramas e festas que o têm como palco. Gratifica-me, portanto, saber do interesse das autoridades suecas, no que concerne ao uso de tecnologias digitais nas escolas. Lá, ao inverso do que vem sendo feito no Paraná, a TI tem importância secundária no sistema da escola pública. Não é pequena a diferença entre a Suécia e a república da Lava Jato e quejandos. Ao contrário, porque substantiva, dificilmente admite medição ditada pelos mesmos valores. Não é que os países nórdicos tenham conseguido manter o estado de bem-estar-social a que os levara a social-democracia, mas porque também neles ainda há os que resistem à avassaladora agressão do capital. Até quando – uma coisa: a agressão; e a outra, a resistência –, ainda não se sabe. Sabe-se, porém, que a crescente desigualdade social, fruto em grande medida do egoísmo e da ganância com que operam as elites, não levará o Planeta senão ao desaparecimento de tudo. Para os que gostam de usar velhos e desmentidos métodos de avaliação, a que estão alheios os sentimentos e aspirações humanos – mesmo para esses, os números parecem inexistentes. Apesar de diariamente divulgados. Às guerras, de que a Ucrânia é palco e o genocídio dos palestinos (sem exclusão de outros conflitos bélicos propositalmente ocultados, em curso em várias outras regiões) são exemplares, somam-se as cifras relacionadas à fome, ao adoecimento crescente de amplas parcelas das populações, ao extermínio de minorias, à violência espalhada pelo Mundo, ao abandono de avanços técnicos e científicos, porque assim o capital o exige. Os números relacionados à produção de alimentos só fazem aumentar, não se sabe em que proporção, relativamente aos que morrem de fome. Também ninguém se interessa por estabelecer a mínima comparação entre os padrões de bem-estar experimentados pelos que recolhem os lucros e outras formas de renda, face aos que emprestam sua força de trabalho e seu suor (às vezes, sangue) para que os números agradem aos que os exploram. Tecnologia que não serve para melhorar as condições de vida de todos os seres humanos não pode ser considerada avanço, mas retrocesso. Nem algo que qualquer ser verdadeiramente humano deva louvar.
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