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Danem-se! Vão ao bispo.

Primeiro, foi o sorriso retratando o desprezo que a vida humana merece de alguns assemelhados fisicamente aos humanos. Pensava-se ser a última das manifestações de ódio e desdém votada àqueles que ousam e ousaram discordar. Como a proclamar aos quatro ventos e por todo o Planeta que tempos velhos estão voltando. Pena que não voltem com ele os torturados, assassinados, lançados de avião em alto mar, tornados desaparecidos. Mesmo se essa volta impossível apagasse a chaga moral carregada até pelos descendentes das vítimas. Os órfãos, as viúvas, os irmãos, os amigos, os compadres, os vizinhos, dentre os quais – sempre será bom supor – muitos emprestam agora sua compreensão e mão de aplaudir aos que se esmeram em louvar o assassinato promovido por agentes do Estado e condenar sucessivas gerações à desesperança, se capazes de fugir à fome, à violência, ao desemprego, à pandemia tão bem administrada pelos que fizeram dela mais uma das muitas armas postas a circular. Durante muito tempo usando frases por demais conhecidas – eu não sabia que essas coisas ocorriam nos porões, quando admitiam a existência desses porões; ou eu apenas cumpria ordens superiores -, os cúmplices dos crimes contra a humanidade tentaram fugir ao julgamento da História. No limite de seu desespero, tudo fizeram para manter sob o mais pesado cobertor acontecimentos que alguns de seus antecessores denunciaram e criticaram, obstados por certo fenômeno que meu professor de Direito Penal chamava oásis de honra. O pedaço mais profundo da profundeza da alma, onde se esconde o que resta de virtude, cercada de deserto espiritual e intelectual, que (dizia mestre Aldebaro Klautau, líder católico paraense) ”até a mais reles prostituta guarda dentro de si. Importa pouco, aqui, o linguajar preconceituoso do penalista paraense, pecado apenas venial, se comparado à precisão da imagem: reduzida honra preservada no mais íntimo do ser humano. Pois agora, passados quase sessenta anos do ato inaugural da tragédia persistente, sucessores dos agentes de ontem cospem no prato em que teriam ido buscar o alimento que mataria sua fome e que também serve para matar cidadãos cujo crime é o da discordância. Ontem, a opção religiosa de um era anunciada como grande virtude a conquistar espaço na mais alta corte de Justiça do País. Agora, é o presidente de uma também alta corte da Justiça especializada quem reincide. Tenta desqualificar verdades transparentes nos autos que a mesma Casa por ele presidida reconheceu. Tanto, que camaradas de gerações anteriores protestaram e, em muitos casos, fizeram absoluta questão de revelar oficialmente à nação. Vencida a resistência dos que desejam apagar a História e mentir sobre o conteúdo dos fatos por ela registrados, reaparecem os algozes, desta vez para dizer, alto e bom som – danem-se as vitimas, os fetos arrancados do ventre de suas mães estupradas, torturadas, mortas! Danem-se os descendentes dos sacrificados! Que se vão queixar ao bispo! A palavra, portanto, agora passa para o Pleno do Superior Tribunal Militar e para as comunidades autoapresentadas como cristãs. Ou, também no limite, os que dizem crer em um ser superior – chame-se ele Jeová, Jesus, Buda, Abraão, Alá...

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