Quando o ódio é cultuado em importantes ambientes de uma república claudicante, é aconselhável manter-se distante desses lugares. Sem, contudo, alienar-se da vida social e negar a própria condição humana reivindicada. Mais grave, contudo, é simular indignação com certas práticas, se praticadas por aqueles de quem não se gosta, gastando o tempo ocioso para louvar, aplaudir, acompanhar e endeusar as mesmas práticas, se outro as exercitam. É o que se vê, quando circula nas redes (anti)sociais o apelo à volta da operação Lava Jato. Mesmo depois que a cúpula do Poder Judiciário se viu forçada a anular a condenação da figura-alvo das investigações fraudulentas sob o patrocínio de indivíduos cujos atos posteriores, conhecidos pela sociedade, mostraram-nos parciais, desonestos portanto. Os maliciosos inúteis (pela ausência de inocência e pela nocividade social de sua conduta), no entanto, fingem-se de ignorantes, diante das evidências: a retribuição do afastamento de candidato favorito na eleição de 2018; a premiação de delatores contumazes; o arrimo encontrado na organização criminosa que opera no Congresso; a tentativa de pôr sob o controle dos justiceiros a dinheirama devida à Petrobrás - e muito mais, como a crônica destes tristes tempos registra. Já nem seria necessário lembrar alguns fatos e seus protagonistas, pois nas cabeças ensandecidas ou, ao contrário, voltadas ao cometimento de perversidades e taras não caberia recepcioná-los. As rachadinhas, as agressões à Constituição e ao Estado Democrático de Direito, a burla à legislação que permite controlar a administração pública, a imposição de sigilo sobre fatos lesivos à cidadania e tudo mais quanto revela o (mau) caráter dos que concentram o poder, nesta república cada dia mais parecida com monarquia corrupta como soem ser aqueles grupos de que a civilidade jamais se aproximou. Ou seja, além de déspotas, faltam aos promotores dessa viagem de volta ao passado e seus seguidores as mínimas condições para serem mais que autoritários ignorantes. Aos que deles discordam, se não há ódio a roer-lhes o coração, o dilema consiste em escolher o dó ou o nojo que lhes deve ser dedicado. Ou - quem sabe? - juntar esses dois sentimentos, ainda que evitando poupar-lhes a glória de ver o vômito da repulsa dourar-lhes as roupas que não conseguem esconder suas desqualidades.
PS: Vale a pena registrar que, minutos após a redação deste texto, sabia-se de cumprimento de mandado judicial para apreensão de documentos, na casa do Torquemada da Lava-Jato.
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