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Foto do escritorProfessor Seráfico

CPI e forca

Um dos performáticos mais destacados da trupe presidencial se exibirá na manhã desta quarta-feira, diante da CPI da covid-19. Metido no traje que ele pensa bastar para caracterizar um patriota, o empresário Luciano Hang começou seu espetáculo com alguma antecedência. Divulgou em rede (anti) social uma foto em que aparece algemado. Era a ilustração da pretensa ironia vomitada, na tentativa de – dizem alguns jornalistas – desmoralizar a CPI. Nesse gesto bravateiro adicional, o papagaio sem asas tenta pautar e constranger os senadores, como se os papéis estivessem trocados – ele, o investigador; os parlamentares seriam os suspeitos de práticas criminosas. Estas, desde logo deixem-se limitar ao enfrentamento da pandemia. Diferentemente do que li e ouvi, vejo outros significados na imagem algemada do perroquet (é como os franceses chamam à ave da família dos psitacídeos). Uma delas está contida na busca de atacar a CPI, antes de enfrentar as dificuldades que ele já sabe ocorrerão no depoimento. Se fugir à rotina consagrada por muitos dos depoentes anteriores, Hang (que traduzido para o português tem o verbo enforcar como um dos significados) não recorrerá ao tribunal que ele quer ver extinto. Jurará dizer a verdade e não se furtará a dize-la. Tem-se muitas razões para dizer delirante tal expectativa. Em especial, porque as algemas ostentadas de modo aparentemente irônico podem constituir um ato falho. O gesto de quem tenta esconder de terceiros aquilo de que não tem dúvida. Uma espécie de confissão, que certamente os membros da CPI levarão em conta. Se, no que toca as agressões antidemocráticas aos poderes Judiciário e Legislativo, as digitais do empresário há muito foram encontradas, no processo do qual já se contam quase 600 mil vítimas, só agora emerge sua participação. Mais grave, envolvendo-o em prática de que resulta sua própria orfandade. Conhecer, portanto, a procedência do eventual relacionamento de Luciano Hang com as ações das redes (anti)sociais disseminadoras de remédios ineficazes e a prática do charlatanismo de que a Prevent Sénior é suspeita, para ele, por óbvio, deve ser inquietante. A simulada auto-punição prévia, de que as algemas seriam o anúncio dá a medida em que há algum resíduo de humanidade no pensamento (?) e no sentimento do empresário pitoresco. Como a ave em que se inspira e à qual se assemelha. (Perdoem-me os papagaios, despertadores que, no quintal, me antecipam cada novo dia).

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