
Cores do Brasil
Ponho-me diante do televisor e vejo e ouço informações sobre a eleição de prefeito em cidade do interior de São Paulo. Lá, o prefeito eleito em 2020 foi cassado pela Justiça eleitoral. A cidade, de nome indígena (Cajati), revela-me quanto o Estado mais rico do País se liga, pelos nomes dados aos mais diversos locais, à cultura original. Na desvairada capital, não é escassa nem rara a presença do nosso mais remoto passado. Se muitas das cidades trazem nomes evocativos dos originais ocupantes, o mesmo acontece na capital. Anhangabaú, Itu, Piassanguaba, Caetés, Itaquera somam-se a Avanhandava, Itaquaquecetuba, Avaré, Caraguatatuba, Itaúna - compondo interessante e revelador mosaico. A mostrar quem eram de fato os donos das terras que encantaram (e enriqueceram) visitantes e invasores d'além-mar. Lembro-me, então, do efeito que os papagaios terão produzido nos europeus. Suas cores variadas, sua algazarra característica certamente acrescentaram esperanças aos navegadores. Alegria, além de riqueza! Quem poderia querer mais? Enquanto se reduz o colorido das florestas, à força do fogo que as vem consumindo, o verde, o vermelho e o amarelo das penas vão sendo substituídos pelos tons graves e lúgubres do momento. Numerosas, em maioria, as pessoas que entram e saem da seção eleitoral e transitam nas ruas da cidade. As roupas, parcial ou totalmente negras, não são exclusividade do lugar. Dizem, apenas, que nenhuma outra cor se justifica, quando o País baterá o pior recorde que se imaginaria alcançar. Faltam poucos dias para completar, tornar redondo o número de mortos pela covid-19, 600 mil.