O distanciamento entre os supostos representantes do povo e seus representados há muito identifica o que se tem chamado crise de representatividade. Embora fenômeno registrado em muitas nações, aqui ele se tem agravado. Quando era mais que tardia a oportunidade de promover a correção de alguns dos numerosos vícios, é da Câmara dos Deputados a iniciativa de contribuir para fragilizar ainda mais a claudicante democracia em que vivemos. Não é outra coisa a PEC da anistia, desta vez usada com o pior dos propósitos. Um ato equivalente ao do ex-capitão excluído das forças armadas e depois tornado inelegível. Este se viu privado do direito de candidatar-se, pela penca de delitos eleitorais que enriquecem sua folha corrida. Mas também foi ele quem concedeu ofensivo perdão a um liderado distante do que caracteriza um cidadão probo. Comparando-se a conduta do ex-Presidente da República com a da previsível maioria da Câmara, a iniciativa desta parece mais vergonhosa. Não porque esta seria a primeira falta grave cometida. Pesa na gravidade do caso o grau de ofensa à democracia, desta feita exigindo o engajamento em sua defesa, sobretudo dos que fazem da política seu ganha-pão. E que pão! Interesses e iniciativas como a da lamentável PEC da anistia explicam e justificam farta e cabalmente o significado da crise de representatividade. Não se pode negar não haver um só detentor de mandato legislativo sem votos. Todos chegaram às casas legislativas, das Câmaras Municipais ao Senado, porque receberam votos. Em muitos casos, pela capacidade de ingrupir os incautos; frequentemente, pela adesão dos eleitores aos maus valores e costumes de seus preferidos. Como vem sendo proposta a realização de cursos de Política para condenados pela tentativa de golpe de estado, deveriam os partidos ser obrigados a ministrar cursos para todos os seus filiados e candidatos, ao longo do tempo. Nesses cursos seriam esclarecidas as responsabilidades também dos eleitores. Afinal, sem o voto deles, ninguém chega a tão importantes postos que só a democracia favorece. Não há como contestar a conclusão de Bertolt Brecht: o pior analfabeto é o analfabeto político
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