Discordo de que conselhos não são bons; se o fossem não seriam dados. Seriam vendidos. Como passou minha fase de consultor, em parte porque ninguém me consulta mais; em parte, porque trato de autoaconselhar-me a cada instante, nada mais, aqui e acolá capto sinais de que sempre será bom ter alguém disposto a nos tornar a Vida mais agradável e pacífica. Também não são todas as pessoas capazes de entender o sentido de um conselho. Menos ainda as que creem na possibilidade de uma opinião ou recomendação alheia servir para algo. Esses refratários, longe de incomodar os conselheiros, desde que não reproduzam o Acácio de Eça de Queiroz, não sabem o que podem estar perdendo. (Perdoem-me o gerúndio, aqui muito assemelhado à linguagem corrente dos call centers). Desculpem-me, mais uma vez. Achei feio traduzir a expressão para centros de chamada. Voltemos aos conselhos. Eles vêm da ausculta atenta do noticiário, ontem mais instigante que nos dias que o antecederam. Não porque a rigor tenham trazido alguma surpresa. De uns tempos para cá, a cena é quase a mesma. Quase sempre, o som sai da mesma (suja) boca. O primeiro desses conselhos, dirijo-o às cozinheiras, ostentem o saber e o sabor típico de culinária exótica ou tenham a tarja de um cordon bleu ou trois gros qualquer. Uma espécie de recomendação que não se limita aos peixes regionais, ao jacaré em postas, à maniçoba e à moqueca de siri mole. Seja qual for o prato, a cozinheira deve ter cuidado, diante do seu mais importante instrumento de trabalho. A chama muito alta pode queimar-lhe o rosto, como tem queimado o de tantos, incapazes de cozinhar o que quer que seja. Nunca ponham o rosto muito próximo do fogo. Podem dar-se mal.
O outro conselho vai aos que não conhecem Chico nem Francisco. Ou que, conhecendo-os, desprezam a inteligência humana e se pensam todo-poderosos. Mesmo que finjam alguma fidelidade ao que assim é chamado pelos crentes. Quando inebriados pela falsa impressão de poder, lembrem-se de que o pau que bate em um dos nossos personagens mencionados, é o mesmo que bate no outro. Disso nos dá conta, mais fartamente fundamentada, a Polícia Federal. Prestigiada em governos anteriores, respondeu à violentação que lhe tentaram impor, com os fatos de que toda a sociedade já sabe. Não é de outra coisa que as emissoras de televisão têm tratado.
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