Pense-se o que se pensar sobre o destempero verbal do Presidente da República, é impossível e inadequado atribuir isso apenas à qualidade de sua formação, sua trajetória e seus propósitos. Ainda mais, quando sequer há algum ineditismo nos fatos que o envolvem. Não terá sido por algum ato louvável que seus camaradas o terão excluído de suas hostes. Saber-se do processo que o afastou gozando das regalias dos companheiros com mérito reconhecido pode ser fruto de compaixão, adesão ou cumplicidade, mas é o que menos importa agora. A História não para. Os verdugos poderosos de ontem, se no Brasil conseguiram produzir réplicas atualizadas, em outros países ocupam, se não os cemitérios, as latrinas da sociedade. Lugar para onde são mandados os bípedes chamados de humanos sem qualquer merecimento. Mera concessão ou desatenção. É bem este o caso do ex-Capitão. Nem por isso se devem ignorar razões para ele ser como sempre foi e esforçar-se cada dia mais, por permanecer sendo. Hoje, com muito mais motivos que ontem. Ao que se saiba, enquanto era apenas casernoso, ele não podia ser acusado se não do frustrado projeto de explodir a usina de abastecimento de água da cidade do Rio de Janeiro. Matar milhares de seres humanos, à força de uma ação ironicamente elegante, comparada às outras formas depois usadas. Desde a benévola exclusão, a sequência de crimes cometidos por ele constitui material didático indispensável a um bom e extenso curso de Direito Penal. Fiscal, Administrativo, Tributário etc., também. Na trajetória do ex-oficial e nas práticas a que ele se entregou, acabaram-se envolvendo outros agentes, igualmente atrelados ao destino que lhe for dado. Mais grave, do ponto de vista dele, é a presença dos próprios filhos, simbólica e precisamente identificados por números – um zero sempre à esquerda. É preciso, portanto, dar atenção não a uma simples circunstância, mas a fato revelador do quanto o ambiente em torno influencia valores e condutas. Ortega y Gasset esclarece melhor. Como iguais se atraem reciprocamente, outros zeros se foram acrescentando à grei. Chamem-se Queiroz, Nóbrega, Pazuello , Wasserff, Salles, Weintraub, Wejngarten, Araújo, zero somado a zero, sejam quantos forem, resultarão em nada. No máximo, a remessa e recolhimento de todos em penitenciária de segurança máxima. Eis a razão do desespero. O destempero vindo junto. O mesmo que a onça ameaçada pelo caçador oferece, como reação ao sacrifício iminente de seus filhotes. É compreensível e surpreendentemente racional o cálculo do Presidente. A razão de que desdenha, ao disseminar o vírus que compensa a frustração da explosão frustrada, ele a usa irracionalmente na tentativa de apagar o passado que não lhe cabe administrar. A memória humana não perdoa e os autos que ela registra se chamam História. Por isso, é compreensível o desespero destemperado (ou destempero desesperado?) do Presidente. Difícil, talvez impossível, pelo menos condenável será repetir o benefício a ele atribuído pelos ex-camaradas.
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