Duas notícias envolvendo o atual governo do Estado de São Paulo chamam minha atenção. Sobretudo, pelo grau de relacionamento que têm entre si, ainda que diretamente afetas a setores distintos e aparentemente avessos das funções públicas. Por isso, além de tudo o mais que essa relação significa, pelo simbolismo de que se reveste. Apreciadas no contexto que as cerca e diante do conhecimento que se tem dos atores, as notícias podem dar sentido a certo tipo de valores e intenções do governador paulista e de seus colaboradores. A primeira dessas notícias refere-se à matança promovida por membros de Polícia Militar, na baixada santista. Já se sabe terem sido eliminadas, como resultado daquela ação policial-militar, mais de 10 pessoas. Até agora, o empreendimento marcado por exagerado grau (se este pode ser menor em algum momento) de violência vincula-se ao assassinato de um dos camaradas da PMSP. Ou seja, a vingança teria sido o móvel da matança. E ainda não se terá esgotado a discussão sobre as vantagens de os policiais ostentarem presas ao seu uniforme câmeras-testemunhas de suas ações regulares. De qualquer maneira, não há outra causa a que possa ser atribuída a violência com que agiram os policiais paulistas, por mais que se possa esperar a multiplicidade de interpretações e narrativas que venham a ser produzidas em derredor do lamentável fato. Outra decisão do governo de São Paulo diz respeito à recusa em participar do Programa Nacional do Livro Didático. Em razão disso, mais de cento e vinte milhões de reais deixarão de ser transferidos àquele Estado. A preferência que o Secretário de Educação paulista dá ao uso do computador é tida como o motivo da recusa. Talvez não saiba o senhor Feder (trata-se do verbo?) que a melhor orientação educacional usa meios eletrônicos como complementares, não prioritários, na escola. Também é lícito supor que o secretário de Educação paulista conhece os muitos e múltiplos riscos a que se submetem os usuários de computadores, cuja saúde é comprometida, quando expostos por tempo prolongado diante das telas. A convergência das duas notícias permite avaliar a orientação dos atuais governantes da unidade mais rica da Federação. A reação do governador Tarcísio de Freitas, elogiando a matança da baixada paulista e seus autores, se combinada à recusa em fornecer livros aos estudantes de seu Estado, parece querer desmentir que nações se formam com homens e livros, como o disse Monteiro Lobato. Nascido em Taubaté (1882), o criador da boneca Emília jamais imaginaria que máquinas e armas seriam consideradas mais importantes que a vida humana e os livros. Se máquinas e livros podem complementar-se no processo educativo, a matança na baixada paulista e a recusa em dar livros aos estudantes também se complementam, na compreensão de uma visão de mundo absolutamente desprovida dos valores que diferenciam os homens dos outros animais.
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