Competência e esperteza
- Professor Seráfico
- 14 de set. de 2024
- 2 min de leitura
Antes, os armadores e transportadores fluviais da Região estabeleceram tabela própria de fretes. Alegaram prejuízos decorrentes da seca que atinge os rios amazônicos, antecipando majoração dos custos de transporte. Apenas mais um exemplo do capitalismo que, em si mesmo, não melhora a situação da sociedade. À acumulação beneficiária de uns poucos corresponde a miséria da grande maioria, onde quer que se tenham instalado o egoísmo e a exploração desenfreada do semelhante. Ou seja, em praticamente todo o Planeta. Agora, também característica presente sobretudo no arremedo de capitalismo praticado no Brasil, eles desejam fugir mais uma vez dos riscos do negócio, que alguns tolos imaginam indissociáveis das atividades econômicas. Entre nós, é diferente, tanta a voracidade e a velocidade com que se revelam os apetites nada humanitários dos detentores do capital. O exemplo mais recente diz respeito ao já chamado DPVAT das águas, ônus aplicável aos transportes fluviais, para cobrir eventuais danos causados pela prestação dos serviços de embarcações em operação na região amazônica. Não fôssemos tolerantes - ao ponto de chegarmos à cumplicidade - com os abusos e a substituição de deveres atribuíveis aos exploradores privados de toda sorte de serviços, certamente estaríamos nos distanciando do sistema econômico imposto, sobretudo à força de agressões e ameaças. Os desastres que vitimam seres humanos e a perda de cargas transportadas nas embarcações se sucedem, sem que sejam alteradas as condições de segurança exigíveis para a operação do sistema de transportes fluviais. É certo que também ao poder público cabe parte da culpa. Mas também o aparelho do Estado não se tem mostrado mais que um operador, patrocinador, gerente e gendarme dos interesses privados. Ao fim e ao cabo, dos usuários é cobrado o ônus indevido, eis que seu único interesse é o de se verem transportados (ou ter sua carga transportada) no vasto espaço regional. Criança, ouvi de muitos dos que já à época acumulavam e enriqueciam, que quem não tem competência, não se estabelece. Agora posso dizer que estabelecer-se não exige competência, mas esperteza e cumplicidade. Não pode ser diferente, em qualquer sistema de mercado. Só que aqui, para fazer jus ao tamanho de nosso território e de nossos maus costumes, tudo se amplia e ganha proporções inimagináveis.
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