Dê-se o nome que se quiser dar, não muda a natureza do crime de que estão ameaçados grupos indígenas do interior do Amazonas. O propósito de exterminá-los está em todos os órgãos dos media, elucidativo para quem leva às últimas consequências o que lê. Ainda mais se tem noção do contexto em que as palavras são ditas. Circunstância agravada pela condição em que se encontra o autor do discurso. Da boca do tenente da reserva do Exército, Henry Charlles Lima da Silva veio a sentença de morte aos grupos isolados, acusados de “importunar” outro grupo, o povo marubo. Sejam quais forem as razões do coordenador da FUNAI no Vale do rio Javari, seja qual for a relação entre o dito e as políticas relativas aos ocupantes originais do território amazônico, a ameaça soa ao desejo de ver extintos os grupos ameaçados. É inequívoca, inclusive, a expressão usada para dizer das intenções da autoridade, oxalá incoerente com o que pensam os dirigentes da Fundação que deveria proteger os índios brasileiros, isolados ou não. Vou meter fogo, junto com os marubos, nos isolados. A perspectiva da qual os indígenas são vistos pelo governo federal pelo menos na aparência, não diverge muito da que fica exposta na manifestação do coordenador do Javari. Nem por isso, porém, deixa de constituir erro grave, quem sabe merecedor da pronta e rigorosa ação das autoridades a que o oficial da reserva é subordinado, aplicando-se-lhe a respectiva punição. À falta desta, feitas as investigações (não as de praxe, por seus maus antecedentes) e obedecido o rito determinado por Lei, também se haverá de apurar eventual cumplicidade, que tanto pode ser efetivada pela leniência no tratamento do caso, quanto pela negligência no trato de falta de tamanha gravidade. Uma circunstância torna ainda mais absurda a ameaça do tenente Henry, quando afirma não estar no posto “para desarmar ninguém, também não estou aqui para levantar a falsa bandeira de paz. Eu passei muito tempo da minha vida evitando a guerra, mas se a guerra vier, nós também não vamos correr. Tais palavras trazem à memória o pensamento e a ação do marechal Cândido Rondon, para quem morrer se for preciso, matar, jamais, o lema com que se tornou reconhecido e reverenciado, na Amazônia como no resto do Brasil. Pode-se dizer que não se fazem mais oficiais como antigamente? Espero que não.
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os verdadeiros ladrões estão lá dentro....