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Foto do escritorProfessor Seráfico

Começar de novo

Mais um ano passa a integrar nosso passado. Aproximamo-nos de 2024 em situação muito melhor do que o fizemos há doze meses. Embora nem todos reconheçam os avanços experimentados no decurso do ano que se finda, não só os números que costumam proclamar os negacionistas de toda estirpe deixam evidentes as diferenças. Nenhuma delas diretamente responsável pela redução do maior de todos os nossos males - a desigualdade social e econômica a favor da qual trabalham tantos, apesar de menos numerosos. Registre-se, todavia, o próprio ar que se tem respirado, a despeito de os amazônidas terem experimentado tempestades de areia e fumaça, obra e graça dos arrogantes conservadores. Este, qualificativo de qualquer ponto de vista negativo. Não tem sido outro, porém, o esforço dos que assim se qualificam: a conservação de uma sociedade acostumada ao privilégio, não raro atribuída à determinação de deuses mais próximos do anjo decaído, não obstante as simulações e hipocrisias usadas para justificar tanta iniquidade. Dizer que esse é fenômeno universal não desfaz nem reduz o acolhimento de que ele se beneficia, nos 8,5 milhões de km2 que constituem nosso território. Chorar o leite derramado ou contar pitangas não colhidas não vem ao caso. Queixumes e reclamações destituídas de reação firme e decidida não passam de contributos aos que desejam conservar tudo como parece sempre ter sido. A ação inconsequente, com frequência praticada ao arrepio das normas legais e éticas exigíveis em qualquer sociedade sadia, nada aproveita aos explorados. Ao contrário, esses sentimentos nada cidadãos alimentam vícios e desvirtudes tão presentes em nossa sociedade. Eles militam a favor das prebendas com que se desonra a humanidade de cada indivíduo, a par de fazer da caridade uma prática avessa à virtude teologal. Esta, estrepitosamente anunciada e louvada, na prática de semideuses cruéis no seu egoísmo, pantagruélicos em seu apetite. Mas nem isso pode obscurecer o fato de que já não há mais autoridades públicas negando oxigênio aos que dele precisam, nem leitos e equipamentos hospitalares onde eles podem salvar a vida de tantos dos nossos irmãos. Também recua o entusiasmo pelas armas e as balas que, por elas disparadas, ceifam a vida dos brasileiros - jovens, pretos e pobres, em sua aterradora maioria. Essa capacidade de começar sempre tarefa que há muito deveria ter sido cumprido, se não pode ser admitida como destino e sina, revela a resistência de que são capazes as sociedades, mais difíceis sejam os dias, mais ameaçadoras sejam as condutas. Antes que se finde a primeira metade do primeiro mês de 2024, os brasileiros seremos chamados a rememorar um 8 de janeiro indelével na memória pátria. A resistência aos que se viram derrotados pela vacina e a dedicação dos profissionais da saúde fieis ao juramento hipocrático impôs limites aos cúmplices de um vírus. Foi de resistência, igualmente, a conduta dos que às armas preferem o livro; à ignorância, reivindicam o conhecimento; à ganância e à violência, têm preferido o comedimento e a paz. Só na aparência trata-se do drama de Sísifo, pois a pedra aos poucos vai se sustentando e sustentando a democracia a que não demorará chegaremos.

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