Coabitação politica
- Professor Seráfico
- 9 de jul. de 2024
- 2 min de leitura
Os franceses chamam coabitação a convivência de partidos diferentes, para garantir a viabilidade de um governo. No parlamentarismo, sem maioria o Primeiro-ministro não tem condições de governar. Dissolvendo o Parlamento e convocando eleições parlamentares ontem encerradas, o Presidente Emmanoel Macron amargou dura derrota. O resultado do primeiro turno lhe impôs dificuldades decorrentes do mau desempenho de seu partido. O crescimento da extrema direita de Marine Le Pen e Jordan Bardella e dos grupos de esquerda puseram em risco seu desempenho no poder. Talvez não lhe parecesse tão desagradável ver instalado no Matignon um líder da extrema direita. Para o povo francês, no entanto, isso é o que de pior poderia acontecer. A Nova Frente Popular, integrada pelos grupos de esquerda, fez a leitura correta do cenário e recomendou que candidatos concorrentes com outros da mesma frente renunciassem, segundo o número de votos obtidos no primeiro turno. Isso aumentaria a probabilidade de estancar o fascismo em ascendência. Mais de 200 deles seguiram a orientação e o resultado não poderia ser melhor. Sairá da esquerda o novo Primeiro-ministro. Pesou também na vitória da frente republicana (como se tem chamado a Nova Frente Popular), o crescente envolvimento dos eleitores, cujo comparecimento no primeiro turno (65%) foi superado no segundo, com 67% dos inscritos. A reação de muitos governantes europeus e de outros continentes destaca a importância da rejeição da extrema direita, a que não escapou sequer o governo conservador da Polônia. Macron ainda não consultou as lideranças da Frente, como determina o regime parlamentarista. Nem os líderes divulgaram o nome a ser indicado para o posto de Primeiro-ministro, dentre as siglas de esquerda que obtiveram vitória até certo ponto surpreendente. Sabe-se, porém, que o novo Primeiro-ministro não virá do RN de Le Pen e Bardella, nem do Juntos, do próprio Emmanoel Macron. Ainda não é tudo. Seguida a tradição, Jean-Luc Mélenchon deveria ocupar o posto. O fato de que sua frente também é forçada a compor com o centro pode alterar o cenário. Se o mais grave - o crescimento da extrema direita - foi golpeado, seria tolice dizer que tudo está resolvido. Ainda há muita água correndo no Sena. E por correr....
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