Ruy da Fonseca (Manaus/AM)
Choro por ti, Amazônia, lágrimas no volume
do rio das guerreiras.
Choro ao derrubarem tuas árvores. Angelins,
castanheiras, ipês… aguanos; imponentes
sentinelas inertes que não revidam.
E no solo que fi ca nu, te cobrem com retalhos de
vários tons de verde. Choro porque quero te ver
num só tom, o verde de floresta virgem.
Choro ao ver secando os igarapés de águas
transparentes, que serpenteiam a floresta, feitos
pela cobra grande Boiuna com seu rastro.
Quero continuar a escutar o uirapuru cantar e o
guinchar das araras e periquitos que bagunçam
o teu silêncio.
Quero somente rios barrentos de assoreamento, não
de rejeitos de minérios que matam tua fauna.
Humanos? Bastam os que aqui vivem irmanados
com os povos nativos, que não depredam; tão
somente a subsistência.
Choro porque não te quero lenda como as do Boto
Namorador, Matinta Pereira, Mapinguari,
Muiraquitã…
Não quero um Brasil inteiro chorando.