Cresci ouvindo referências e condenação ao chamado bacharelismo. Isso não me enfraqueceu o ânimo de cursar uma Faculdade de Direito. Ao longo do curso só vi ratificada minha expectativa, baseada na forma mais adequada de vivermos em uma sociedade democrática. A não ser através do ordenamento jurídico subordinado à ideia de Justiça, fenece qualquer esperança de que a sociedade se constitua segundo padrões democráticos. Chego a ver redundância, quanto à expressão Estado democrático de Direito. Fora do Direito, é à bala que se decidem as controvérsias. Ou no tapa. Mesmo os que, sabendo-se no risco de ver a mão da Justiça pesar-lhes sobre os ombros, talvez entendam o que estou afirmando. A despeito de muitos virem tentando desmontar o aparelho Judiciário, foi ao STF – a cúpula do poder republicano onde as questões são resolvidas – que todos acorreram. Tiveram,, assim, assegurado o direito de silenciar, quando não mentiram simplesmente. Nem levo em conta a máxima que anima boa parte da população, consistente na presunção de que boa sempre será a lei que beneficia o comentarista; ela será má, se o prejudica. O bacharelismo, em grande medida, resulta desse viés incapaz de distinguir direito de privilégio. Não questiono, sequer, a dificuldade de ser entendido o grau de formalidade que o ato jurídico exige, para ser dado como perfeito e acabado. Ou não terei dado atenção às aulas que trataram disso?
A pandemia, além dos mais de 600 mil mortos produzidos, traz à baila a conduta malsã de boa grei de profissionais da Medicina. Seria capaz de apostar que grande número dos médicos que praticaram o que o senador Otto Alencar chamou eutanásia disfarçada e seu colega Rogério Carvalho batizou pesquisas clandestinas, veem nos procedimentos jurídicos meras manifestações do bacharelismo. Por isso, ignoraram tanto os protocolos recomendados pelas autoridades sanitárias e baseados na Ciência, quanto o direito à vida dos enfermos. Sabia-se, e não é de hoje, das pretensões de numerosos desses profissionais, autoigualados aos deuses do Olimpo grego. Menos por vaidade ou má fé, mas sobretudo pela deterioração na qualidade dos cursos por eles frequentados. Um computador, aparelhos capazes de fotografar quase até a alma do paciente é tudo de quanto pensam precisar, para fazerem-se deuses. Pior para eles, muitos dos quais só por sorte não terão seus registros cassados. merecimento eles os têm.
Encontramos onde o bacharelismo confraterniza com o curandeirismo.
Por alguma razão pensei no termo rábula...