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Cem dias, sem trégua

Atualizado: 14 de abr. de 2023

Completam-se cem dias do governo do Tripresidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os brasileiros experimentamos nesse período caracterizado em outros países como trégua dada aos novos governantes, desde a tentativa de impedir o governo de governar, quanto a descoberta de ladroagem raramente vista no País. Não houve, portanto, a trégua esperada, porque costumeira e quase universal. Mais um fato a revelar quanto ainda operam as forças que tentam impedir o Brasil de avançar, um passo sequer, no que suas riquezas e sua gente têm o direito de conquistar. Porque pode fazê-lo. Não foi o furto em si o que mais aumentou o sofrimento e a vergonha dos brasileiros. Presente em quase todos os momentos da História do Brasil, a corrupção se tem desdobrado e inventado novas formas de registrar-se. Em alguns governos mais que em outros. Com a peculiaridade que talvez resulte da inventividade do brasileiro. Aqui, as práticas corruptas aparentam ter apenas um tipo de criminoso, o corrupto. O corruptor quase sempre escapa ao escrutínio da Polícia, da Justiça - e, por causa - da opinião pública. Não se espere que representantes dessa parte de nossa elite estejam distantes dos gabinetes mais influentes e poderosos da república. Novamente, é forçoso reconhecer certas diferenças que precisam ser destacadas, mesmo se seu conhecimento só chega ao público quando as instituições, ainda que precariamente, não são tolhidas em suas prerrogativas e atividades. É bem o caso. Antes, aviões da Força Aérea Brasileira haviam transportado drogas ilícitas, e a autoridade responsável pela segurança nacional atribuía a descoberta do fato ao descuido de um subalterno de uma das forças. Também mais de um ano depois do delito, a nação soube da pretensão do próprio Presidente da República, de apropriar-se de bens que deveriam ser recolhidos aos arquivos e acervos públicos. Nada menos que quase 20 milhões de dólares, em joias de ouro e diamantes. Felizmente, não houvesse nada mais a registrar - e não é o caso! - bastaria pôr a nu e no conhecimento dos mais de 215 milhões de brasileiros a corrupção que mobilizou servidores, autoridades de vários escalões e de aviões pagos com o dinheiro público, para contabilizar os primeiros avanços destes cem dias. Também foi possível saber com mais riqueza de detalhes e evidências, do impedimento ao exercício do voto por milhões de nordestinos, graças às providências autoritárias de que a Polícia Federal se fez executora. Foi nesse mesmo período de pouco menos de quatro meses a manifestação terrorista que destruiu bens da União e tentou dar às instalações dos três poderes republicanos o fim que tiveram barracos atingidos pelo volume de água caído em várias cidades do País. Tudo, em vergonhosa diferença, com a participação direta dos que dirigiram a nação, entre 2019 e 2022. A retomada de programas e projetos abandonados ou destruídos nesse nefasto período de nossa História já se faz sentir. Os indígenas, quilombolas e camponeses já se sentem menos inseguros e ameaçados, depois da política de extermínio a que foram antes submetidos. As populações interioranas mais carentes esperam ansiosas pela volta de médico às suas comunidades. Os amantes das armas e, portanto, da morte (dos outros), sentem que está próximo o dia em que serão desarmados, deixando a população menos insegura. A Ciência e a Educação voltaram a respirar, depois de que também para seus agentes faltou o oxigênio que, por negado, matou milhares de pessoas Brasil adentro. Imaginemos que desde o primeiro dia de 2023 tivesse sido dada a Lula a trégua dada aos outros presidentes! Imagine-se que hordas de delinquentes não se tivessem abrigado à portas dos quartéis, desde novembro de 2022! Imagine-se, também, que os poderes republicanos tivessem sido poupados da ação dos vândalos, de que o 8 de janeiro é marca indelével! Mesmo sem trégua, estes quatro primeiros meses do ano de 2023 já mostraram ao Mundo quão possível é fazê-lo melhor. Pelo menos, o respeito da sociedade internacional já não nos falta. Amanhã, seremos o exemplo pelo qual se podem medir as potencialidades e a vontade do povo em aproveitá-las em benefício de todos os seus compatrícios e contemporâneos. Seremos régua, mesmo sem trégua. Sem que isso implique adesão a toda e qualquer decisão oficial. Ao contrário, nossa contribuição será tanto maior, quanto maior for nossa atenção para o infame problema enfrentado pela sociedade brasileira - a desigualdade. Nem será precisa tanta coragem para atestá-lo. Basta ter olhos de ver e coração para sentí-lo.

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