
Círio de Nazaré, 2020
Desacordado
resta o sonho
com as cores da
berlinda
importa nada
chuva ou sol
a manhã como for
sempre será
feliz e linda
nem o primeiro
ou terceiro de
outubro domingo
no segundo teremos sido
despertados
dentro de nós
à moda de eterno
acordo
podendo ser ou não
ser
de fé manifestação
ignorante da nobreza
do remediado
da ralé
joelhos postos no
chão
em lugar nenhum
na sala
na tela da televisão
sem procissão
ausente a contrita
andança
no coração como sempre
a força de inexcedível
esperança
Para que
carroças
carro ou andor
a cor da corda
não nos importa
na rua na sala
frente ao televisor
sempre a veremos
entrar por nossa porta
a espera-la
e receber de seu manto
o amor
a repartir com
tanta gente de um
povo sofredor
A cor
acordes de sino
não-plangente
se choro há
a nos molhar de
felicidade
e fazer vivo o
que pensamos
morta:
- o sofrimento de
toda uma cidade
Continuamos na jornada
como sempre
no coração
o sentimento nos recorda
irmão faminto
tal Caim
o assassino
pedindo paz
fraternidade e ombro amigo
a ter conosco a certeza
do abrigo
Restos da corda
o que sobrou
da poda
como semente
desatando nossos nós
retirará dos moinhos
traiçoeiros
as mós que moem
sonhos puros
verdadeiros
e – se descubro –
pensarão nossas feridas
no passar dos meses
até a messe de novo
outubro – alvissareiro!
Blem, blem, blem,
é o Círio
na rua
na casa
nos corações
de uma cidade
- ela mesma
chamada Belém!
Manaus, 10 de outubro de 2020, o ano da pandemia.