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Buchas de canhão

Foto do escritor: Professor SeráficoProfessor Seráfico

Há algo de semelhança entre os arruaceiros que se reuniram à porta dos quartéis do Exército, desde 30 de outubro do ano passado, e os garimpeiros que agora tentam obter ajuda dos órgãos que desrespeitaram e das autoridades que, por leniência ou cumplicidade os deixaram invadir as terras reservadas aos povos originários. Se é facilmente datada a ação cujo desfecho foi o terrorismo praticado contra as sedes dos poderes republicanos, no outro caso torna-se mais difícil a datação. Vem de tão longe (dizer de 1500 até aqui não seria despropósito) e envolve tantos interesses lesivos à maioria da população, que ano, dia e hora tornam-se quase impossíveis de fixar com bom grau de certeza. Por enquanto, os que praticaram crimes contra a democracia e o Estado de Direito desfrutam de tratamento digno que eles mesmos negariam àqueles de quem divergem, julgando-se hóspedes das Penitenciárias mantidas com o imposto de todos os cidadãos não-sonegadores. Ainda assim, tais presidiários desejam participar de chás das cinco e happies-hours, além de banho quente e comodidades de que alguns não dispõem em suas próprias residências. Os outros, invasores de terras indígenas, estupradores e praticantes de crimes contra o meio ambiente envolvidos no genocídio dos Yanomami tentam fazer exigências descabidas, como se a condição de delinquentes desse a eles o direito de extorquir das autoridades o que por justiça não lhes pode ser dispensado. Os casos, vê-se logo, são diferentes primeiro pelo palco em que se desenrola a pantomima. Uns, na praça principal da capital do País; os outros, no interior da floresta amazônica. Há, no entanto, certa similitude entre os dois grupos, dadas a motivação delinquente de que ambas se fazem veículo, e os vínculos sociais mantidos com os que financiam e protegem suas atividade criminosas. No primeiro caso, os maiores interessados nos resultados felizmente frustrados deixaram-nos sob o sol e a chuva, durante prolongado período, enquanto desfrutavam das delícias oferecidas em outras cidades, inclusive no exterior. No segundo, os patrocinadores do crime ou os que a eles se acumpliciaram, por ação ou omissão, fazem conhecer o propósito no mínimo extorsivo. O porta-voz dos interesses dos invasores e seus financiadores não é menos que o governador de Roraima. Dele o Presidente do Senado recebeu a proposta de promover, com dinheiro público, a remoção dos delinquentes, agora esquecidos e abandonados por seus financiadores. Esta, a conduta copiada dos interessados no golpe de estado. Invasores de terras e terroristas, da porta dos quartéis e da praça dos três poderes, todos meras buchas de canhão. De um pedaço de madeira nunca se fará um anel de ouro. Tanto quanto um monte de esterco jamais produzirá um gostoso pudim.

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