A Globo News iniciou ontem a série de programas chamada Central da Transição. Como o nome indica, trata-se do encontro de uma bancada de jornalistas do canal com personalidades da política brasileira. Destina-se a cobrir o período anterior à posse do Tripresidente eleito em outubro e a construção da equipe que levará ao Planalto. Inaugurou a série o Vice-presidente eleito Geraldo Alckmin. Bem-humorado, divertido até, o ex-governador paulista mostrou-se perfeitamente integrado aos propósitos do Tripresidente com o qual será empossado no primeiro dia de 2023. Essa uma primeira - e quem sabe duradoura - impressão. Não à toa, Alckmin repetiu frase muito utilizada nos bastidores e sob o clarão dos holofotes da política, celebrizada por um dos mais ferrenhos defensores da ditadura de 1964: o futuro a Deus pertence. Disse-a, naquela oportunidade, o Ministro da Justiça Armando Falcão. Nada demais, quando se recorda da profissão de fé católica do recém-eleito vice de Lula. Indica, além disso, que para ele não há questão fechada, antes que o tema a que se relaciona seja ampla e exaustivamente discutido. Como ele mesmo afiança que ocorre com Lula, cujas virtudes ele não cansou de cobrir de elogios. Há a acrescentar a confirmação de que os primeiros dias do próximo governo serão dedicados ao revogaço, nome que os próprios media dão ao conjunto de decisões que porão abaixo o armamento da população e o lençol de segredos que cobrem as bandalheiras praticadas pelo (des)governo moribundo. Outros mais, certamente, serão alvo dessas providências. Ao mesmo tempo, vê-se em Alckmin extraordinária adesão ao programa que Lula deverá executar, nos quatro anos de um mandato que seu próprio vice põe em dúvida se será o último. Nesse caso, o uso da expressão timbrada pelo ministro da ditadura serviu para nem confirmar nem negar a probabilidade de o cabeça de chapa postular por novo mandato. Deus, então, foi feito substituto dos apoiadores do Tripresidente e do TSE. Deplorando a profusão de legendas, a seu entender complicadora do processo político e do desempenho dos governantes, Alckmin parece imaginar que a união dos agentes políticos em torno de programas e ideias seria o mais adequado. Só isso removeria os empecilhos que o centrão previsivelmente oporá ao bom exercício do Executivo, nos próximos quatro anos. Em que pesem as lacunas e os vieses que costumam intrometer-se em encontros como o de ontem, as palavras de Alckmin podem dar mais tranquilidade aos brasileiros. Mesmo àqueles que reclamam pela punição exemplar dos democraticidas em ação, estejam dentro ou fora dos quartéis.
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